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Tendências e Empreendedorismo - Gramado como Modelo Palestra

domingo, dezembro 02, 2012

Do que ficou


Do que ficou...
Pacard

Apenas os olhos risonhos ficaram
pela noite vida afora
fui embora
ela partiu
nunca mais ela me viu
nunca mais a vi também
seu sorriso se apagou
seu perfume sublimou
mas seu olhar ainda guardo
numa caixinha oculta
aqui do lado do peito
meu porta jóia da alma...
Guardei tua alma comigo
guardei comigo a paixão
guardei meus sonhos antigos
mas lacrei o coração
quis sentir de volta o tempo
quis ouvir teu acalanto
quando adormecia sorrindo
quando enxugava meu pranto
das tardes que te abraçava
das noites frias do tempo
quero voar como o vento
resplandescer como a aurora
beber o brilho do dia
cheirar o perfume da esperança
quero ser o próprio mundo
talvez ser como a vida
um sopro, uma partida
uma chegada, talvez...
Contanto que tudo possa
ser contigo outra vez.


segunda-feira, outubro 15, 2012

Ensina-me...


Ensina-me...
Pacard

Ensina-me a te ensinar
Que ensinarei  a aprender
De tudo quanto me disseres, um pouco de cada
a tanto mais
ensinarei-te.
Ensina-meae te ensinar
Que eu compreenderei
Aquilo que nunca me fiz entender
De tudo quanto recolhi
Das palavras trazidas pelas gotas de brisa
Em cada manhã
Em cada primavera
Em cada tempo de minha escola.
Ensina-me a abraçar
As catadupas do tempo
Que me trazem ciência, luz e saber
Para que me abraces também
Quando me ensinares
A viver.


segunda-feira, outubro 08, 2012

Expectativas, dilemas e alternativas para o mercado moveleiro


Expectativas, dilemas e alternativas para o mercado moveleiro
Pacard – Designer e Consultor*
O que são tendências?
Costumo comparar as tendências com o clima. Por exemplo: um céu azul com limpidez e luminosidade abundante é o cenário ideal para um piquenique, pois mesmo que seja avistada uma pequenina nuvem no horizonte, e atrás dela outra e mais outra, ainda assim não há motivo para preocupações. Mesmo assim, não custa nada ficar com um olho no sanduíche e outro no horizonte, pois os ventos podem mudar (e mudam) sem aviso e em pouco tempo, o céu escurece, ouve-se o primeiro trovão ao longe e logo a seguir, um temporal acaba com o farnel tão delicioso.
O mercado não é diferente. O vento das tendências é semelhante à pequenina nuvem da metáfora. Sopra de mansinho e traz mudanças imperceptíveis para quem está no meio do cenário. Semelhante ao clima, nenhuma mudança acontece sem indícios que permitam uma recolhida estratégica para que estejamos preparados para as intempéries do mercado com seu humor traiçoeiro.
Não há uma fórmula para prevenir calamidades, nem desvarios da economia, ou a invasão de mercados mais agressivos. Mas há alguns parâmetros que permitem uma avaliação equilibrada da direção do vento, para que se possa estar preparado para as mudanças sem sobressaltos.
Desta forma podemos definir como tendências, as mudanças de costumes, que apontam para modificações no modo de ser das pessoas. O “Google”, o “Facebook”, o “Twitter” e outros aplicativos que formam as redes sociais, configuram mudança de comportamento na sociedade. As pessoas trocam as cartas pelo correio, o uso do telefone ou os telegramas, pelas mensagens por email, recados na sua página pessoal ou criam blogs que substituem diários ou agendas pessoais. Surgem poetas, escritores, cronistas, jornalistas, romancistas e críticos de arte, cinema, moda todos os dias, numa desenfreada ânsia pela notoriedade, ao ponto de se permitirem posar em exposições, muitas delas ao ridículo total, apenas porque necessitam ser vistos, por um minuto, dez segundos ou por uma fração de olhar.
O Ser Humano tem necessidade de se fazer notar. E por ser humano, as necessidades mudam de acordo com a temperatura ou teor de umidade do dia. E estas mudanças podem ser observadas, armazenadas e transformadas em padrões de comportamento. A estes padrões, damos o nome de Tendências.
Como o mercado moveleiro percebe estas tendências?
Minha tarefa como consultor se traduz na árdua missão de encontrar empresas em estase1 e prover á elas uma catarse2 de seus medos, incertezas e erros ideológicos, e levá-las, por meio de seus gestores e colaboradores a buscarem o caminho de volta para encontrarem por si mesmos o gargalo tático e a partir desta leitura, promoverem uma releitura de seus valores e principalmente dos valores do mercado, do comportamento do consumidor, para que possam retomar e acelerar a retomada de seu sucesso anterior. Há ainda casos em que não há erros passados e o que se busca é justamente uma linguagem acessível para que possam interpretar a direção dos ventos do mercado.
O setor de móveis, infelizmente, está com frequência na “lanterna” deste reconhecimento das tendências. É o último a aderir às transformações, mas o primeiro a sentir as consequências negativas deste atraso. É um desafio que temos, promover e prover esta orientação ao setor produtivo deste mercado, porém um desafio de grandes proporções, pois não se trata de “convencer” os fabricantes, os lojistas ou os representantes, ou ainda os designers de produto e interiores, ou o consumidor. O desafio
compreende uma sincronização do alcance deste comportamento, considerando que se de uma forma geral estamos todos interligados ao mesmo processo, pois somos ao mesmo tempo fabricantes, consumidores, gestores, formadores de opinião e participantes do coletivo que envolve esta poderosa engrenagem social.
Posso dar alguns modelos destes paradigmas1 para melhor compreensão do desafio ( não gosto de usar a palavra “problema”, pois pressupões algo que nos faz sofrer, causa tristeza, depressão. Já um desafio propõe busca de iniciativas, de ações positivas de análise, críticas e soluções). O primeiro modelo está no fator histórico, onde há poucos anos atrás, um pequeno marceneiro vendia móveis e ganhava pelo volume da demanda dos clientes, proporcionada por costumes comportamentais, tais como a necessidade de aquisição de uma estante enorme, porque nela seriam guardados e expostos livros, enciclopédias, equipamentos sonoros, receptores de TV, em geral grandes, molduras com fotos de família e uma escrivaninha acoplada, que permitisse uma máquina de escrever, papéis, canetas, acessórios, telefone e um abajur.
As redes sociais e as novas tecnologias suprimiram as fotografias. O internet suprimiu as cartas. O “tablet” e o “notebook” suprimiram a máquina de escrever. O “Google” suprimiu as enciclopédias e o “facebook” suprimiu o telefone. O receptor de TV, antes uma caixa enorme, feia, desengonçada, foi substituída por uma TV de “LEDs, que mais parece um quadro moderno e não necessita mais do que uma estreita prateleira para suporte dos equipamentos periféricos e receptores. No dormitório, os closets tomaram o espaço dos roupeiros convencionais. Maiores, mais espaçosos e de fácil manutenção, podem ser projetados, fabricados e montados em menos de 48 horas nos grandes centros onde existem lojas especializadas em fornecer componentes e placas pre cortadas. A cama foi substituída por uma grotesca caixa de madeira revestida com elegância por um assemelhado de colchão, e tomou lugar das frágeis e barulhentas camas de madeira. Apenas um painel decorativo separa a cama da parede e nada mais. E o pobre marceneiro se viu sem serviço em menos de uma geração. O talento de oficiais de marcenaria foi substituído por modernos centros de usinagem (CNC), verdadeiros Robôs que cortam, furam, esculpem e detalham com perfeição centenas ou até milhares de peças e componentes por dia. O velho marceneiro com óculos turvos e avental de couro puído e entumecido pelos anos foi substituído pelo jovem profissional de marcenaria egresso das escolas do SENAI ou contratados dentro de outras fábricas mais preparadas. Ele não necessita mais deixar um pedaço da mão em uma máquina perigosa ( antigo símbolo de competência para um bom marceneiro), porque eficientes e eficazes programas de segurança do trabalho antecipam pontos cegos na empresa e providenciam recursos para que haja fluência com qualidade e baixo custo.
Poderíamos discorrer por horas a fio sobre todas as modificações que estão acessíveis ao profissional de marcenaria ou do móvel seriado, porém não há necessidade, posto que o foco deste artigo é apontar a causa, a forma e o modo de ação das correntes migratórias deste mercado. Desta forma entendo que cabe tanto aos profissionais de produção, quanto ao marketing e comercial, financeiro, enfim, as veias propulsoras da matriz produtiva, estarem posicionados e preparados para as mudanças, buscando neste farol indicador que mencionei, os primeiros indícios das curvas, picos e hiatos que alteram a sociedades e a planta produtiva do setor moveleiro. E muito mais vem pela frente. Quem sobreviver, verá.
Não quero encerrar sem falar sobre algumas das inovações deste mercado que estão chegando há algum tempo, mas ainda há muito por acontecer.
 Madeira
O setor madeireiro no Brasil teve uma trajetória conturbada e meteórica. Tendo seu ápice nos anos 70 com o início da devastação da Amazônia, as madeiras nobres encontraram pronta aceitação tanto no Brasil quanto no mercado externo. As trocas ocorreram à medida que havia oferta das espécies por seu turno, ora imbuia e cedro ( do Sul), cerejeira,
mogno, castanheira, marfim e tantas outras que se alternavam de acordo, primeiro com a oferta de novas espécies, motivadas por preço ou volume, depois pela demanda promovida pela continuidade e formação de preferências, permitindo que aqueles que antes apenas ofereciam, depois se tornavam “garimpeiros” de oportunidades, deixando a zona de conforto do permitido e se aventurando no arriscado pelo lucro garantido.
 Painéis
 Com o advento de novas tecnologias provenientes da Europa e América do Norte, os painéis, antes resumidos a aglomerados, que atendiam às classes populares, seja com acabamento laminado com fenólicos, ou revestidos com papel resinado, contribuíram para a democratização do móvel junto ao mercado. Com uma tímida desconfiança dos fabricantes no início dos anos 90, ingressa o MDF com força total a partir do terceiro milênio, tornando-se referência de marketing no tocante à qualidade, onde tornou-se referência no apelo de vendas o chamado “100% MDF”.
 O Aglomerado, antes visto com desconfiança pela falta de qualidade e baixa resistência, recebeu um reforço de tecnologia e foi transformado em MDP.
 O ingresso dos revestimentos melamínicos mudou o comportamento do consumidor, que encontrou neste revestimento valiosas oportunidades para adquirir seu mobiliário com características contemporâneas, de fácil execução e acessível, pela baixa exigência de equipamentos e experiência aos profissionais que trabalham com este material. Os melamínicos ou BPs (Baixa Pressão) multiplicaram as possibilidades de acabamentos, cores e texturas. Estudos de tendências (hoje chamamos de Referências) apontavam para uma necessidade de madeiras como aparência nos acabamentos. Vieram os amadeirados. Outra referência aos apelos táteis (partindo da referência das sensações, dos sentidos, do sentido tátil) são as texturas que simulam superfícies naturais. Ainda com o advento da questão sustentável, inicialmente surgiram as madeiras e materiais de demolição, que depressa arrefeceram a oferta, pela falta de reposição , mas que foi bem aceito pelo mercado, vieram as tecnologias de “distressing”, que simula aparência antiga em materiais renováveis, e ainda mais recentemente, os melamínicos com uma soma de texturas e imagens gráficas, levando ao consumidor qualidade aliada á beleza e praticidade, com economia.
 Acessórios
 A globalização dos anos 90 em diante e também a sua contrafação, a “Desglobalização”, com todos os seus paradoxos3 trouxe, entre suas vantagens, o fácil acesso ás tecnologias, antes comuns apenas na Europa e América do Norte, através de importadores e grandes distribuidores, ou mesmo fabricantes, que trocaram seus parques fabris por depósitos de produtos importados, tornando-se eles próprios, grandes distribuidores destes produtos em território brasileiro. Em destaque entre estes produtos estão os acessórios, ferragens, puxadores e aramados, hoje com preço acessível e qualidade aceitável pelos padrões internacionais. O próspero período de exportação permitiu e até mesmo exigiu que houvesse uma qualificação dos fabricantes em relação a estes materiais. Desta forma, ganhou o consumidor em todos os aspectos e tornou-se agente inverso do sopro das tendências, se permitindo receber as tecnologias que as engenharias somadas (florestal, química, industrial) aos modernos conceitos de marketing, econômicos e comerciais proporcionaram e ainda irão proporcionar cada dia mais ao bem estar de cada um. O agente maior e o objetivo final de cada uma destas tecnologias, deve estar focado no ser humano.
 Comunicação e Mercado
 A internet mudou o mundo e o mundo mudou o jeito de ser da pessoas. O setor moveleiro, mais uma vez, ainda é tímido nesse aspecto. A primeira empresa “Pontocom” que surgiu,
na intenção de vender méveis nos Estados Unidos, a “Furniture.com”, faliu em menos de dois anos de funcionamento. Outras porém prosperaram e cada dia mais a internet se torna um agente precioso na prospecção de marcas e produtos. Porém, o hábito de comprar roupas e móveis com um clique ainda não tocou os costumes do consumidor brasileiro, que precisa tocar em tudo que compra antes de comprar. Mas vai tocar. É questão apenas de maturação. O mercado está quase pronto para este dia.

Glossário:
1 – Estase – Estado inerte, letárgico, desmotivado. (Antônimo: Êxtase – Euforia)
2 – Catarse – Extravasar, purgar aquilo que incomoda, purificação.
3 – Paradoxo – Contraditório
*Pacard Designer
Pacard é o acrônimo de Paulo Cardoso, designer, consultor e educador profissionalizante.
www.pacard.blogspot.com – www.pacard.carbonmade.com – dpacard@gmail.com
(48) 3028 4515 – 9961 1546 – Florianópolis SC Brasil

terça-feira, setembro 18, 2012

PACARD- CANDIDATO À UMA VAGA DO CNPC - SETORIAL DESIGN

Boa Noite:

Sou candidato a uma das vagas por Santa catarina ao Conselho Nacional de Politicas Culturais, Setorial de Design e pretendo apresentar sugestões para políticas de acesso à cultura do design a partir da educação básica, guardados os degraus da formação cultural.

Pretendo ainda levar ao Conselho projetos de inserção do design como fator de desenvolvimento econômico e social efetivo em comunidades carentes, promovendo o despertamento de culturas inatas ou mesmo inserindo valores que permitam sintetizar e aflorar valores de talentos junto à população das periferias e das pequenas comunidades interioranas brasileiras.

Também pretendo propor a formação de núcleos sociais voltados ao design, com parcerias entre universidades, empresas, escolas de Ensino Médio e Fundamental, Associações de Bairros e entidades beneficentes, com o objetivo de preparar profissionais desde a tenra idade.

Promover o incentivo de culturas com apoio financeiro e tecnológico a partir do design, gerando a partir deste, vetores de bem estar social.

Pretendo levar ainda outras ideias coletadas a partir do encontro virtual com designers de todo o Estado, como base, mas também de todo o território nacional



segunda-feira, setembro 10, 2012

TEORIA DA CRIATIVIDADE


TEORIA DA CRIATIVIDADE
Paulo Cardoso
1 – O vazio e o objetivo
                                       Somos cercados pela constante necessidade de inovar coisas, inovar os sonhos, inovar a vida. Só a mediocridade é capaz de frear nosso movimento em contínua busca do desconhecido, seja ele estético, prático, físico ou mental e até mesmo espiritual. Platão afirmava que “tudo flui”, e nesta fluência constante, nossa inquietude é capaz de nos transformar a olhos vistos, alguns, ou com serenidade, outros, porém todos nós somos transformados. O tempo é o maior agente dessa tarefa e não importa o quanto façamos, seremos modificados até o dia em que nossos passos nos levem para o repouso. Até lá, indefectivelmente somos mutáveis e mutantes  involuntários.
                                       Algumas pessoas no  entanto tendem a se tornarem agentes e não objeto das mudanças, uns mais e outros menos, moderadamente. E são estes agentes que proporcionam o movimento  do mundo no que tange ao domínio do homem  sobre as coisas que o cercam.
                                       Mesmo nos fenômenos da Natureza, tem o homem sua participação: no clima, na vegetação, na composição química do ar que respiramos,  no modo com que nos locomovemos, nas coisas que ingerimos e em consequência disso, com nosso bem estar físico, mental ou espiritual. São as decisões de transformação do homem que o faz plantar certo tanto para que colha outro tanto a mais,  ou buscar meios que se plante menos e colha muito mais que antes. Descobre e produz veículos que nos levem mais rápido para chegarmos antes a lugares que nunca imaginávamos poder ir, mesmo que com isso percamos a oportunidade de apreciar a paisagem e sentir os perfumes do caminho. Mas isso já é outro assunto. Importa aqui saber que tem o homem, que temos nós este poder de transformar o que foi criado, dar novas formas, multiplicar, reduzir, acoplar, rebaixar, levantar, reforçar, enfraquecer as coisas e por este meio nos tornarmos participantes cooperadores do processo criativo de D’us.
                                       “Façamos o homem à Nossa imagem e semelhança”, diz-nos respeito à inteligência, ao Livre Arbítrio e à capacidade de ver além do nos mostram nossos olhos.  Reconhecendo que somos feitos à imagem e semelhança de D’us, nos capacita a caminhar e  criar aquilo que seja aceitável, possível e necessário. É aqui que encontramos o Design, como instrumento de modificação e aprimoramento das coisas que tornam o mundo aceitável enquanto mundo presente.
                                       É tarefa de o designer fazer uma leitura permanente do mundo que o cerca e incessantemente  buscar soluções que tornem o mundo um pouco melhor. Não temos a competência de “salvar o planeta”, como querem muitos e acreditam alguns, mas temos a capacidade de tornar suportável e dar qualidade de vida aos que vivem no mundo, começando por aqueles que vivem junto de nós.  É objetivo de o designer realizar aquilo que não conseguiram os alquimistas malucos que sonhavam transformar chumbo em ouro por meio de conjurações estapafúrdias, mas por meio de pequenas modificações simples do cotidiano, possam tornar melhor o jeito de ser e viver das pessoas.
                                       A Torá, composição dos cinco livros de Moisés, tem em seu corpo literário, alguns espaços vazios entre uma palavra e outra, em determinados trechos. Estes vazios são um mistério para os estudiosos, que creem serem estas lacunas um compêndio de mistérios que D’us os fará conhecer  nos dias que antecedem à vinda do Messias. Semelhante aos vazios da Torá, nossa vida é repleta de vazios que podem ser preenchidos pela imaginação criadora do designer em sua missão de desvendar mistérios em cada página em branco de sua prancheta de trabalho.



2 – Observando o inusitado
                                       Tenho ministrado cursos em diferentes lugares do Brasil eu fico surpreso com a capacidade criativa das pessoas que encontro. Porém, elas não sabem disso e é necessário um trabalho de “desconstrução” de preconceitos sobre criatividade nas primeiras horas de curso, para que possam descobrir que criar, buscar ideias, não é um “dom de poucos iluminados”, mas uma possibilidade de todos os que conseguem se desamarrar do velho conceito que afirma: “criar é para malucos”.
                                       Certo dia, Jesus caminhava com seus discípulos e encontraram um homem que era cego desde seu nascimento. Tendo sido chamado pelo homem e solicitado que o curasse, Jesus não teceu nenhum discurso, não fez descer fogo do céu, nem fez nada que parecesse manifestar Seu poder como O Messias. Apenas se abaixou, recolheu um pouco de terra com a mão, cuspiu sobre ela, amassou e usando esta lama incomum, aplicou sobre os olhos do cego.  Pouco depois, tendo a lama secada, caíram duas cascas, como se fossem escamas dos olhos daquele homem, que imediatamente, passou a ver.
                                       Somos semelhantes àquele homem. Nascemos livres e esta liberdade nos permite balbuciar o que gostaríamos de dizer, rir daquilo que não compreendemos e chorar diante das coisas que não concordamos. Somos espontâneos. Livres. O amadurecimento, no entanto, gera obrigações e restrições pontuadas pelas regras que nos são impostas. Ao pronunciarmos as palavras, não o fazemos como fazem os adultos, corretamente, mas como é próprio dos bebês, usamos uma linguagem simplificada, cheia de dislalias, trocamos as letras, acentuamos ou cortamos sílabas e desta forma nos comunicamos. No princípio, os adultos fazem um esforço excepcional para nos compreenderem. Porém, à medida que o tempo passa, se aborrecem disso e nos forçam a que falemos do seu jeito. São as dores do crescimento. Comunicamo-nos melhor. Fazemo-nos compreender melhor, porém, assumimos também a identidade social e perdemos nossa identidade nativa. Perdemos a espontaneidade. Deixamos de ser criativos para nos tornarmos iniciados. Abandonamos e nos distanciamos da genialidade criadora para nos integrarmos à mediocridade copiadora. Tornamo-nos preguiçosos em criatividade, porque já há tantas coisas preestabelecidas, tantos padrões à nossa volta, que se torna mais confortável que prossigamos no vácuo desta inércia criada, a frearmos o passo, olharmos à volta e criarmos nossas próprias respostas aos vazios que percebemos.
                                       Nosso mimetismo se dá exatamente pela observação do que nos impressiona ( para o bem ou para o mal) e na repetição orquestrada daquilo que nos facilita a comunicação e o viver, o nosso deslocamento no meio. Por exemplo:  a criança vê a mãe limpando a casa. Em pouco tempo ela estará com um pauzinho ou um objeto qualquer que tenha vaga semelhança com os instrumentos de limpeza da mãe, empregados aqui e ali. Neste processo, mesmo imitando o que viu, ela cria artifícios para que se objeto real se torne o utilitário imaginário semelhante ao que a mãe emprega em sua tarefa e assim, do seu jeito, ele sintetiza a adaptação, que nada mais é do que a recriação ou releitura de sua percepção sobre as coisas presentes.
                                       Penso que nascemos criadores e não somos acomodados nem mesmo  nas primeiras horas do dia. Somos criadores extrovertidos até o ponto em que as demais criações nos sufoquem e nos intimidem, nos tornando críticos e tímidos demais para nos denominarmos assistentes de D’us na continuidade da criação. Uma prova disso é a sequencia matemática de Fibonacci, que começa em passos que até um bebê pode dar: 1, 1, 2, 3, 5..., mas em determinado ponto da vida são equações astronômicas e incalculáveis, nos mostrando que mesmo que andemos um passo, sempre teremos outro mais à frente, conectado com nosso passo atrás.



2 – A Criatividade natural e o contra senso da educação
                                       Desenhar é um dos componentes do Design, é sabido por todos.  Uma criança desenha com naturalidade até os oito anos, aproximadamente. E com facilidade podemos compreender o significado de suas grafias. Traços simples, sem preocupação estética, antes, tem o propósito de comunicar um conjunto de percepções alusivas ao seu pensamento, aos seus sonhos, medos, inclinações afetivas ou simplesmente descrever o ambiente. A partir disso, começa a se tornar crítica com os traços, as cores, as semelhanças. Toma os adultos que, por alguma razão ou coincidência desenham (em seu conceito) melhor que ela. Passa então a competir e nessa competição desnecessária, vê-se encurralada entre aquilo que demonstra seu espírito e aquilo que deve ser  exposto, com o grau de perfeição exigida, em seu entender, em paralelo com o que lhe é também exigido quanto a comportamento, linguagem, postura social e outros parâmetros que a encaminham ao modo adulto de ser. Mudar isso significa deixar sua zona de conforto, pois naquele momento já percebeu também que desenhar e criar, são atividades relacionadas ao lazer e não às necessidades premente da vida, o que já começa a entender (falar correto, respeitar os mais velhos, cumprir horário, etc.) Aqui entendo como “zona de conforto” a atitude de perceber  cumplicidade quando se define como “incapaz de desenhar, tanger instrumento musical ou exercer qualquer atividade ligada ao intelecto criativo, menos cartesiano”, sua determinação em desistir do processo criativo, assegurada da crença que “criar é pra doido” e isso lhe permite ser omissa em tais processos, com anuência dos protetores.
                                       Esta visão medieval ainda, infelizmente, determina o cotidiano das pessoas em sua ampla maioria e é aqui que a “Teoria da Criatividade” (TC), se torna a “Teoria da capacidade relativa”, isto é, assegura que tal como a definição de espaço e tempo de Einstein associados consegue formatar a existência  das coisas, a TC determina a libertação destes paradigmas e faz uma catarse criativa, como uma limpeza de dutos por preenchimento de líquidos purgativos, destrava novamente o processo criativo.
                                       Não é necessário ser criança na idade, mas é necessário ter a pureza criativa de uma criança, tal como desenhou Jesus, a necessidade também de uma catarse espiritual de purificação para que voltasse o homem maduro à pureza original de um pequenino. É desta forma que buscamos a interação entre o educando e o propósito, não focando no fim como um meio, mas no princípio como um fim. Sem uma revisão crítica no ambiente racional não é possível esta catarse.
                                       O processo criativo é bem mais que ensinar e aprender a “fazer coisas” ou “criar coisas”, mas fundamentalmente um meio de libertação das amarras criticistas e contextuais, encaminhando para uma varredura na forma, dando surgimento não mais à forma, a regra, mas à continuidade. Não se trata de um anarquismo, mas de um retorno ao princípio criador, princípio gerador de inovação, sobretudo de expressão, de continuidade da expressão  dos sentidos aliados às necessidades exteriores, de valor extrínseco ao indivíduo. Aquilo que em criança demonstrava em duas ou três dimensões com as mãos as coisas que não tinha capacidade neurológica  para expressar em palavras nesta fase, a criança montava em massinha de modelar, desenhava e coloria num papel de pão e assim comunicava sua vontade. A imagem falava pelas mil palavras necessárias à comunicação. Torna-se aqui então o objeto um veículo de comunicação, mais do que uma expressão estética. Aqui a diferença então entre o estado adulto e aquele manifesto em criança: enquanto a criança manifesta sensações pelo traço e objeto, caminha com as sandálias da arte. Na fase adulta, o objeto é o meio de expressão aliado ao que aprendeu neste amadurecimento, onde tudo deveria ter um sentido, uma função, suprir uma necessidade. Não é certo nem errado encontrar uma qualificação para este objetivo, mas apenas uma constatação e esta constatação é o ponto de apoio para que a alavanca das necessidades humanas possa mover o mundo enclausurado numa mente criativa.


3 – Coletar e armazenar ideias.
Pacard

O primeiro engano de domínio público é aquele que o designer “tem” idéias e que precisa de “inspiração” para criar. Posso afirmar com segurança que nenhuma inspiração é necessária para a produção de criações, de inovação, assim como muitas vezes a própria inspiração, da forma que conhecemos, pode atrapalhar no processo criativo, pois devem ser consideradas todas as variáveis que orquestram a geração de um design. Design pressupõe um foco criativo orientado a um propósito específico: gerar um produto seja em ele em duas ou três dimensões. Seja ele gráfico impresso ou virtual, será ainda assim um produto, cujo propósito seja comunicar ou proporcionar conforto ergonômico, estético e funcional ao objeto proposto.
Desta forma, não pode o designer deitar-se numa rede à sombra e esperar que uma luz transcendente o inspire e tal como um visionário, gere um espasmo de genialidade absoluta. Quando isso ocorre, não posso acreditar que foi simplesmente uma ideia fortuita, sem que a precedesse um incansável cordel de pensamentos, de pesquisas, um “brieffing” de necessidades do cliente, com um “check-list” imenso à frente e uma vontade enorme de gerar algo que promova melhor qualidade de vida ao seu usuário.
O processo criativo pressupõe o encontro de necessidades entre o criador e o consumidor, tendo como elo o produto que, de um lado, atende às necessidades de quem o adquire, e de outro lado, promove a manutenção e gera riqueza à quem o produz, não apenas ao proprietário da indústria que tem seu merecido lucro, como também gera riqueza social, com empregos, impostos, distribuindo esta riqueza na comunidade onde esteja instalada sua companhia. Tendo essa premissa, o design cumpre um dos mais importantes laços da cadeia produtiva e social. Deve, portanto ser visto sob este prisma o meio criativo e não como mero capricho do departamento  de marketing ou de criação.
Há, no entanto um hiato existencial entre um departamento industrial e um bureau de criação. Aparentemente não há assimilação entre ambos, pois enquanto o primeiro, pressupõe a “seriedade” sisuda do barulho de máquinas e homens e mulheres atarefados em cumprir metas de qualidade e produtividade, no outro lado está um ambiente extrovertido, democrático, multicolorido, emaranhado de “malucos” filosofando sobre conceitos, forma e função, matizes cromáticos, ergonomia, usabilidade, “amigabilidade” e uma infinidade de termos que jamais serão mencionados no processo produtivo e muito menos ainda dentro da casa do consumidor, que no máximo dirá que é confortável ou desconfortável, cara ou barata, feia ou bonita, e nada mais.
No entanto este entrelaçado de caminhos e etapas é importante tanto para o processo criativo quanto para o produtivo e  para o consumidor, objetivo maior de toda criação e produção, porque é no processo criativo que são exaustivamente debatidas todas as nuances e todos os detalhes que irão permitir que haja fluência na fábrica, giro rápido na loja e finalmente cumpra sua função dentro da casa do consumidor. Este ciclo então não pode estar afeto aos delírios de visionários que esperam luzes no horizonte para que possam criar.  O produto só pode, por estas singularidades, brotar de um diligente trabalho de pesquisa, avaliação e testes com rigor científico e empacotando este complexo mecânico e cartesiano, o senso estético e inovador proveniente da genialidade acoplada à dedicação e experimentação contínua do criador, o nada maluco designer.


4 – O Design como transformador social
                             Pouco se vê o design como modificador de estruturas da sociedade. Ao contrário disso, o design é conceituado no imaginário popular como um “enfeite necessário ao produto” objetivando promover crescimento nas vendas, e o consumidor, por seu lado, faz uma leitura mais individualista do produto. Gosta ou deixa de gostar. É confortável ou desconfortável. Exótico ou inovador.  Sempre agrega,  na opinião dos fabricantes, que não deixa de fazer sentido, porque ele é “sua majestade” o consumidor. Porém não há um conceito de real utilidade quanto à inovação. Até mesmo na denominação técnica, a “inovação” é chamada de “tendência”, “moda” “valor agregado”, mas sempre como um adjetivo, um aditivo que possa “dourar a pílula” e fazer presença nas vitrines.
Umas coisas eu tenho percebido ao longo dos anos no meio industrial: em larga escala, no mercado da classe média baixa, e que representa a grande fatia de consumo brasileiro, o design em si pouco agrega às vendas em grande volume, mas o motivo é bem fácil de entender: Não é uma tarefa simples nem barata a transição de estilos, de tendências dentro do segmento C e D. Mesmo B há certos limites para a inovação. Trocar o desenho de uma grande indústria pressupõe uma imensa transição interna e externa, começando pela matéria prima, escolhendo novos fornecedores, testando qualidade dos materiais, recebendo relatórios de análises quando é o caso de utilitários com normas ergonômicas e funcionais, testes de resistência e segurança no tocante à mobiliário infantil ( que por si mesmo já é um capítulo à parte no mobiliário. Ninguém quer fazer, ninguém quer vender e ninguém quer comprar).
Trocar um produto de linha significa trocar, em muitos casos, de equipamento, da planta industrial, de novos produtos químicos, de novos cursos de capacitação da equipe. Este é outro problema: as indústrias não gostam de investir em capacitação, porque assim que o funcionário se sentir mais bem treinado, ele pede aumento ou acaba sendo levado pelo concorrente, ou outro expoente disso: os funcionários não gostam de inovação, porque têm medo de não darem conta de aprenderem o novo jeito de trabalhar e se tornarem dispensáveis à empresa. Muitos acabam, com isso, até mesmo boicotando o trabalho de inovação. Não foram poucos os casos que tive nestas circunstâncias.
                             O “novo” assusta. O “novo” intimida, porque pressupõe que tudo aquilo que você fez até aquele momento tenha sido errado e que a partir desta nova situação você encontrou o “paraíso perdido”. Não é assim que acontece, mas muitos profissionais se vendem com esta imagem, de “libertadores”.  Do lado do empresário não é diferente, porque por consenso de técnico de futebol medíocre, “em time que está ganhando, não se mexe”. Mas é claro que se mexe sim. Não entendo nada de futebol, mas a realidade está abarrotada de exemplos de pessoas que não quiseram mudar no momento oportuno, nem no momento necessário, acabaram por tentar mudar no momento de desespero. Inovar não pressupõe apenas mudar radicalmente as coisas estabelecidas, mas permitir que haja fluência no processo criativo e quando falo em “processo criativo”, estou necessariamente falando de pessoas. Fábricas não inovam. Máquinas não inovam. Escritórios ou corporações não inovam. Quem inova são as pessoas. Sempre. Isso não se resume ao setor de móveis, nem à decoração e nem mesmo ao design. Inovação é uma constante da existência humana, da necessidade do ser humano de experimentar, de buscar uma visão de outro ângulo do problema, ou da solução do problema.
                             Durante o período em que tento mostrar aos meus alunos o processo criativo, eu peço que cada um desenhe uma árvore, livremente. Ao término da tarefa, percebo que a totalidade dos alunos desenhou uma árvore olhando do mesmo ponto de observação: de baixo.  Nunca encontrei alguém que desenhasse uma árvore vista de cima. Depois que explico o dilema, é que todos se dão por conta que poderiam ter feito isso. O dilema do “ovo de Colombo”. A síntese da aula é mostrar que criar não é difícil. Inovar não é difícil. É apenas mostrar uma solução, tendo como ponto de partida o mesmo problema, mas por outro ângulo. Um ângulo inusitado.  Desta forma, o criador, o inovador é antes de tudo um “revolucionário”. Aquele que não tiver coragem de criar uma revolução com suas ideias, com seu trabalho, com suas soluções, não serve para ser designer.
                             Criação é um negócio, um empreendimento como outro, mas não qualquer, porque a grande maioria dos empreendimentos, das profissões, dos negócios, tem metas e padrões definidos. Existem até mesmo Leis que regulamentam o exercício destas atividades. Existem valores preestabelecidos que permitem que tenham tabelas a seguir. Há modelos de formatação da gestão destes empreendimentos que podem ser modeladores e em qualquer parte do mundo, resguardados os valores culturais e nacionais, mantém o mesmo formato. Uma roda é uma roda sempre. Ela pode ser orientada a servir a um automóvel, ou a um prato ou outro objetivo qualquer. Mas será sempre uma roda, um círculo em três dimensões, que pode ter um comparativo de qualidade, dureza, valor e preço de venda. Mas uma criação não. Ninguém abre um livro de regras para criar algo. Ninguém calcula nada para criar algo. Nenhum criador consulta planilhas do governo para criar algo. Ele simplesmente cria. Depois de criado, o objeto, o empreendimento deverá ser formatado para atingir seus objetivos. Poderá ser moldado às regras, Leis ou valores desejados ou propostos. Mas aí já foi criado. Isso é criação. Chegar ao tudo partindo do nada.
                             O tema deste tópico está implícito nesse contexto onde busquei demonstrar que, se de um lado, a criação como negócio inserido nas corporações já estabelecidas não obtenha o valor que lhe seja devido, de outro lado, temos incontáveis modelos testados e aprovados através, e principalmente do trabalho de Organizações Não Governamentais (ONGs).  Há também, excelentes resultados obtidos por projetos do SEBRAE ou projetos de instituições educativas, que trabalham com comunidades carentes, comunidades ribeirinhas, até mesmo dentro do sistema prisional, onde os apenados trocam dias de trabalho por redução de pena. Enfim, há uma grande quantidade de projetos que só permitiu-se um bom retorno porque se juntou a criatividade inata a muitas populações, culturas ou comunidades. Neste particular, o Brasil é riquíssimo. Tenho visitado o interior do país através de minhas consultorias e busco sempre, nestas oportunidades, visitar os arredores das cidades onde estejam localizadas as fábricas em busca de amostras da cultura local, porque meu trabalho tem um vetor direcionado ao “fator local” (expressão criada por tese de Mestrado de meu amigo Jorge Montaña), onde procuro sorver e agregar elementos desta cultura e criatividade locais aos produtos que crio, ou aos projetos onde participo como educador. Cada viagem é uma descoberta que por si só, permitiria trabalhar por anos a fio apenas agregando um viés industrial ao rico artesanato regional. Neste caso, a criatividade inata não é suficiente, pois ela não gera riquezas.  Aqui eu traço uma linha divisória entre, ser criativo no âmbito daquilo que faz porque faz bem feito e mantém os padrões já outrora criados, e seja esta uma das variáveis de manutenção cultural daquela região, e ser criativo em reconhecer aqueles valores e integrá-los ao produto em série e permitir que mais pessoas tenham acesso àquele valor ou bem regional.  Neste caso há dois valores de criatividade distintos, que devem ser considerados, porque não posso considerar apenas criativo o designer, o artesão, o artista que desenvolveu seu talento e é criativo naquilo que faz, mas tenho que me relacionar com o mesmo entusiasmo ao criativo empreendedor que viu naquele valor um valor a ser multiplicado.
                             Dou exemplo disso: em 1989, ao retornar de uma feira em Milão, dei a uma empresa um folder contendo um conjunto de peças de determinado estilo. Vi naquilo apenas uma informação dentro de um contexto dentro do cenário de informações que desejariam obter de mim naquele momento. Não fui criativo nem eram criativos os modelos que entreguei, porque eram clássicos apenas. Criativa foi a pessoa que viu naquele estilo de produto uma oportunidade e a transformou num negócio de milhões nos anos que se seguiram. Segue-se daí que a criatividade é uma esfera com muitas possibilidades em uma sequência de faces sem inicio e sem fim, que se mostra melhor de acordo com o posicionamento da luz em seus hemisférios.



5 – Os caminhos do design como profissão
Karim Rachid  diz que as pessoas não sabem definir o que é design, porque confundem o fato de desenharem uma releitura de um castiçal do século 17 com design e ele sentencia que isso é “stylling! E não design. Rachid ainda ataca esta miscelânea de profissões que de um dia para outro simplesmente foram transformadas em “design”.  Um pizzaiolo criativo de tornou um “pizza designer”. Um cabeleireiro é hoje um “hair designer”. Um confeiteiro é um “cake designer” e assim por diante.  Karim diz ainda que hoje 99% do que o setor de moda faz é “stylling” e não design, porque design pressupõe alterar costumes, andar pra frente. “A mulher de hoje precisa de bolso para o smartphone, o que uma roupa channel não prevê, então redesenhar uma função, isso é design. O que passar disso, é “stylling”.
Eu não quero ser tão radical quanto à escolha da definição profissional, pois a primeira premissa para o designer é a quebra de paradigmas, de preconceitos e no momento em que eu cercear alguém de se definir nesta ou naquela escolha de sua própria profissão, estarei abrindo caminho para que façam o mesmo comigo. Claro que deveria ser assim do outro lado da mesa então. Eu poderia me intitular “arquiteto”, porque eventualmente desenho uma casa, ou “medico”, porque recomendo a um amigo que sofre de azia, que tome suco de limão com água. Poderia me declarar “taxista”, levo um amigo de carona no meu carro, enfim, são tantas vezes que damos opinião, prestamos algum serviço eventual que, de outro modo, seria invasão profissional a outras pessoas. Claro, que isso acontecendo com certa regularidade e a partir do momento em que eu cobre por isso, ou estabeleça um patamar de submissão de outras pessoas diante de minha graduação, mesmo que não seja naquilo que estou  opinando, eu estarei desrespeitando a Lei e invadindo o espaço de domínio profissional de outras categorias.
                             Mas não é isso que fazem com o design? Não é nisso que transformam qualquer ato de criatividade (ou de aberração) estética imediatamente em “design”? Não somos confundidos com arquitetos, quando fazemos interiores? Não somos denunciados aos Conselhos de Arquitetura e Engenharia, quando uma placa com nosso nome e endereço aparecem numa obra onde se suspeita que tenhamos feito mais do que apenas pendurar cortinas e deslocar o sofá para mais perto da janela? Mas e por que o contrário não acontece? Por que esta submissão tão dócil quando somos invadidos por profissionais apócrifos todos os dias e nos calamos? E pior que isso tudo ainda é nos calar quando nos chamam de “artistas”. Aliás, tem designer que pensa que é artista. Tem produtos que são excelentes para vencer exposições de arte, mas depois que saem de lá, a tarefa mais difícil é encontrar alguma utilidade para aquelas traquitanas.
                             Temos que legalizar o design com urgência, o que graças à D’us e ao Deputado Penna (PV, SP) que foi sensível aos apelos dos designers e fez votar na Câmara (por enquanto em suas comissões internas) a Lei que regulamenta a profissão de designer. Já existe junto ao MEC, mas é invisível junto ao MT. Perante a legislação trabalhista, um designer é ilegal. Uma meretriz não. Porém, mais urgente do que legalizar, regulamentar, frear abusos, é compreender o que é de fato o design.  Tirar o design do meio acadêmico, do meio intelectual, da grandes corporações, do setor de publicidade e seus correlatos, e leva-lo ao público. Levar o que é o design, como o design interfere na vida das pessoas desde a mais tenra infância, dentro das escolas, dentro das comunidades, sejam elas carentes ou não e permitir que o design deixe de ser aquela profissão dos sonhos, que dá certo status, e passe a ser um produto de consumo cultural acima de tudo.




quarta-feira, setembro 05, 2012

TEORIA DA CRIATIVIDADE com Pacard


CURSO:                                               TEORIA DA CRIATIVIDADE
Com Pacard
Data e local:                       a confirmar
Carga Horária:                   32 horas/aula
Objetivos
1 – Capacitar o participante  para pesquisar, criar, projetar e executar grafias e texturas sobre superfícies de madeira e assemelhados em móveis e interiores
2 – Atualização de tendências em uso de materiais sustentáveis
Ementa
1 – Iniciação ao desenho à mão livre
2 – Iniciação ao desenho com auxílio de computador ( Ktetchup e Kerkithea)
3 – Teoria da criatividade
4 – Iniciação à criação
5 – Técnicas de texturas e acabamentos sobre superfícies industriais
Investimento: a combinar
Contato:
Skype: Paulo_cardoso
Telefones: 48 3028 4515 – 9961 1546
Portfolio:



quinta-feira, maio 10, 2012

ENDOMERGES


Endomerges

Pacard

Endomerges acordava todos os dias pontualmente às quatro da manhã. Normal acordar à quatro da manhã, muitos fazem isso. A vida corrida de quem muito trabalha e pouco ganha exige que se levante às quatro da manhã e vá-se dormir à meia noite e tanto. Conheço muitos que fazem isso. Endomerges também fazia. Porém algo diferente acontecia com Endomerges acordava para tomar um chá de maracujá...para dormir. Não, ele não tinha insônia. Precisava de um despertador para cordar pois tinha sono profundo. Acordava, preparava o chá e voltava a dormir.
Endomerges não parava por aí não. Religioso, Endomerges fazia jejum semanal e no fim de um dia inteiro sem comer nem beber nada, tomava um estimulante de apetite. Daí comia. Se empanturrava. E tomava mais um remédio: para perder a fome. Tomava junto das refeições, para não “bater” no estômago vazio.
Já mencionei que Endomerges era religioso. Acreditava que deveria acreditar. E nisso cria, piamente. Era devoto até. Não sabia em que acreditava, daí acreditava que deveria crer para acreditar melhor. Era mais do que crente: era quase fanático. Defendia com unhas e dentes (postiços) a devoção ao crente desconhecido. Tornou-se dizimista até e arrecadava fundos para a construção de uma catedral da crença absoluta. Era, no entanto, uma seita secreta. Ninguém poderia tomar conhecimento disso. Então apenas ele contribuía com ofertas generosas. E as guardava embaixo do colchão.
Discursava em silêncio, apenas movendo os lábios, em lugar discreto e escuro para que não fosse traído por leitores de lábios. Sempre tapava a boca com a mão ao discursar. Uma coisa porém o deixava frustrado: como não falava em voz alta, não conseguia escutar o que era dito e saía das reuniões consigo mesmo sem entende nada. Mas esperançoso que na próxima vez seria ouvido e tambem ouviria.
Endomerges não era infeliz. Pelo contrário. Era um sujeito alegre, extrovertido e simpático. Porém, silencioso. Evitava manifestar sentimentos por expressões para não trair sua intimidade. Nem mesmo olhava para espelhos para evitar se deixar reconhecer por si mesmo. Nunca se sabe com quem estamos abrindo nossos segredos. Endomerges não tinha nenhum segredo, pois doara todos aos pobres. Na verdade um único pobre: ele mesmo. Mas não contava isso a ninguém. Afinal, Endomerges era único.
Ou não?