Começo neste espaço uma cruzada pela busca da identidade do design do móvel brasileiro. Não se trata de nenhum movimento com intenções associativas ou corporativistas, mas de uma necessidade sentida em campo de trabalho de uma linha mestra que norteie o móvel brasileiro num crescente de criatividade.
Temos nossas origens nessa área de idéias dos primeiros mestres: Zanine Caldas, Sergio Rodrigues, Lina Bo Bardi, Joaquim Tenreiro e outros nomes que mesclavam arte com arquitetura e sentimento pátrio no tocante ao produto nacional, entre os anos 50 e 70 do século XX. Depois disso, num soluço entre um espasmo e outro, surgem os Irmãos Campana,e por aí paramos.
Não quero menosprezar aqui o trabalho de centenas de profissionais que silenciosamente se debruçam sobre suas pranchas ( como sou antigo), sejam elas planas ou eletrônicas, e dali tentam levar ao mercado suas idéias, quase sempre bloqueadas pelo intenso sentimento de um mercado cuja cultura oscila quase totalmente para o magnetismo do brilho gerado pelas bolhas européias das feiras de Milão, Valencia ou Hanover.
Tímidos concursos nacionais (dos quais me recuso a participar por razões obvias) tentam criar uma atmosfera de cultura e fazem emergir vez por outra talentos e idéias que em breve são sublimadas pelo novo brilho que o ar do Atlântico sopra sobre as eminencias mercadológicas de Pindorama.
Pobres criaturas, que se valem de câmeras digitais para surripiarem imagens distorcidas e as desembocarem nas industrias que esperam pela benesse destes infelizes, como pintões anseiam pelos nacos de minhoca que as mamães passarinho trazem várias vezes por dia. Pobres atiradores cegos que erram o mercado e acertam os próprios pés ao permitirem que cada vez mais enterremos nossa cultura no mofo do velho mundo que precisa se reciclar à custa do suor e das expectativas dum mundo cheio de idéias, mas com medo de trazê-las à luz.
Por que o medo do novo? Porque o novo pressupõe responsabilidade de continuar com o novo a cada dia. O novo não caminha sem idéias. Idéias não britam de máquinas, mas de pessoas.Pessoas preparadas para fabricarem novas idéias. Pessoas preparadas para transformarem essas idéias em objetos. Objetos do desejo e objetos com usabilidade, funcionabilidade e sobretudo capacidade de suprirem as necessidades do consumidor, do lojista, do fabricante, mas sobreudo de alimentarem as milhares de familias envolvidas na indústria moveleira no Brasil.
Dezenas de milhasres de marcenarias e indústrias de móveis no Brasil. Centenas de milhares de pessoas envolvidas na estrutura do mobiliário. E profissionais cuja soma seja possivel contabilizar nas palmas das mãos, se apresentam com coragem de propor mudanças. Mas se calam pelo medo de enfrentarem a barreira natural de qualquer inovação.
Estou quebrando esta barreira. Dando a cara a tapa, mas quero fazer esta mudança. Faço minha mudança pessoal. Faço a mudança com meus clientes. Faço a mudança com minhas idéias e meus produtos. Pode ser apenas um sopro, uma bolha, mas é a minha bolha. Não outorgo a ninguem mais meu direito de criar coisas com base nos conceitos da minha terra, da minha gente, dos meus costumes e que possa traduzir a minha vontade de gritar ao mundo que somos brasileiros. Os melhores que podemos ser. temos o melhor design brasileiro que o mundo pode conhecer. E que nos copiem, pois temos muito mais.
Pacard
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