O jeito de fazer democracia
Pacard
Fui hoje cedo justificar meu voto, pois por completo desencanto com a classe política, um dos motivos, ou porque nos anos anteriores era um bom motivo para uma viagem à minha terra, cometi o descuido de não ter feito até agora a transferência de meu domicilio eleitoral.
Com a papeleta na mão e sem caneta, imediatamente descobri um animado grupo de pessoas, e meu detector de canetas imediatamente localizou meia dúzia de canetas organizadas lado a lado numa mesa de refeições da escola que cedeu "democraticamente" espaço para a votação. Imediatamente as pessoas me fizeram sentir bem vindo ao grupo e em poucos instantes, enquanto preenchia meu formulário, comecei a discorrer alguns assuntos pertinentes à democracia, sem falar em política, até porque, havia um policial a cinco metros de onde estávamos, com cara de poucos amigos. Lembro quanto a isso, que quando eu era mesário, (e cumpri essa função por muitos anos, com certa alegria até, e me sentindo importante para o exercício da democracia), a Lei previa que a Polícia Militar não poderia estar a menos de cem metros da Seção Eleitoral. Hoje, se bobear, quase entram junto. Novos tempos? Ou apenas um sinal do que pode vir por aí? Não sei. Mas enfim, o assunto discorreu em torno do documento eleitoral. Lembrei que o Brasil é o único país, do qual tenho conhecimento, que possui um sistema "democrático" que nos obriga a votar, ou ao menos a justificar a ausência do voto. Daí, por sermos obrigados a isso, a Justiça Eleitoral nos concede um documento que nos habilita ao voto. Mas que não é aceito no local de votação, porque quando foi confeccionado, achou-se desnecessário que contivesse uma foto do eleitor.
Mas, isso não é tudo de discrepante que se pode encontrar. Por exemplo: posso justificar minha ausência por internet. Fantástico! Moderno! Eficiente! Tão eficiente, que posso estar ao lado da seção eleitoral e dizer que estou na outra ponta do país, e caso minha localização seja rastreada pelo meu IP, é simples: nomeio um amigo, parente de confiança, para que o faça por mim, e pronto! Cumpri com minha obrigação de cidadão: enganei o sistema! E posso ficar despreocupado, pois se algum dos candidatos que eu me recusei a votar aprontar alguma falcatrua, temos o Judiciário que elucida as dúvidas e tira os corruptos de circulação.
Bem, não é exatamente do modo convencional que fazem isso, pois uma votação empatada depois de ansiosa expectativa dos eleitores diante de eloquentes debater jurídicos, a Suprema Corte da Justiça decide que...quem deve decidir é o povo. Felizmente o povo sabe decidir e sabe muito bem escolher seus representantes junto ao Parlamento e ao Governo: e lá colocam Tiririca, Juruna. Clodovil, Enéas, Severino, Roriz, Arruda, Malvadeza e tantos outros que tão bem caracterizam a política e o jeitinho brasileiro.
Bem verdade que não foi De Gaulle que disse que esse não era um país sério. E daí? Não importa quem disse, mas que falou pouco e bonito, ah falou.
Aprendi a lição. Vou imediatamente, assim que permitido, transferir meu título e procurar conhecer com mais atenção os candidatos. Talvez meu voto continue a ser único, mas minha opinião pode multiplicá-lo.
Quem viver, verá!
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