BAMBU, CHINA E DESIGN | for everyone |
Pacard
Ґ Aspectos Históricos
Ґ O Oriente têm inspirado, por muitos séculos, uma aura de mistério ,
fortalecido pela distância que o separa do alcance das pessoas
comuns que vivem no Ocidente. A própria cultura oriental caminha
num paralelo diverso ao que estamos acostumados a pensar, agir ou
caminhar.
Ґ Após a derrubada do Muro de Berlim, em 1989, e antes disso a
"Glasnost - Perestroika" na extinta União Soviética, rompeu os conceitos
marxistas que eram até então o sonho de perfeição política, social,
institucional, educacional e dialética dos povos oprimidos pela face
consumista do capitalismo desmesurado, construído pela Revolução
Industrial do século dezenove, na Inglaterra, e dali espalhando-se pela
Europa e resto do mundo ocidental. O Oriente, entretanto, permanecia
calado, misterioso e inacessível. Com exceção dos Tigres Asiáticos
liderados pela Indonésia, e precedidos pela fixação perfeccionista da
crescente indústria japonesa, que fazia frente à então poderosa força
tecnológica norte-americana e alemã, a Ásia parecia ser o que antes
afirmava Napoleão Bonaparte, "Um dragão adormecido". Da China só
se conheciam notícias de massacres, movimentos estudantis, pena de
morte que sem medida era aplicada a quem fosse manifestamente
contra o sistema, além de conceitos da publicidade negativa quanto
ao uso de excrementos humanos nas hortaliças de exportação,
bolinhos de ratos ou ensopados de cachorros. Sabia-se do nome de
seu mandatário, “Mao Tse Tung”, e quase nada mais.
Ґ O século vinte e um derramou um avalanche de coisas sobre o
ocidente com tanta avidez, como se tivesse um imenso armário
abarrotado cujas portas se abriam inesperadamente e tudo se
derramasse sem planejamento sobre o tapete global, tanto por parte
dos chineses, ineptos comerciantes, mas que possuem mão de obra
barata e abundante, e um incontido, quase doentio desejo de
recuperar o capitalismo perdido, mesmo que à custa de sobrepujar a
ética comercial.
Ґ No campo macroeconômico, a China passou a exportar produtos
para a América do Norte e receber em bônus do Tesouro americano,
acumulando até o ano de 2003 cerca de 4 trilhões de dólares da
dívida do governo americano, sendo que até então o maior credor
desta mesma dívida era a Arábia Saudita, com cerca de 400 milhões
de dólares, dez vezes menos, e todos sabem o quantos os sauditas
influenciavam nas decisões da Casa Branca, fato notório e divulgado
pela imprensa, que no entanto pouca referência faz à vultuosa
presença chinesa entre os americanos, se encontram na iminência de,
caso venham a trancar as importações chinesas, desmoronarem numa
inflação de pode chegar a 10 por cento ao ano, apenas no primeiro
ano, gerando conseqüências desastrosas para a economia mundial,
hipótese que bem conhecem os chineses, e principalmente a América
do Norte.
Ґ No outro lado, países emergentes e mesmo do velho mundo, ávido por
consumir sem sacrificar seus padrões de conforto e a baixo custo,
deliciou-se sem demora em tornar aquelas mercadorias de preços
insignificantes, parte de seu dia a dia comercial. Nem um lado
planejou com tanta precisão este derrame e porta que não se abria,
mas se rasgava, como o outro, que viu a maneira de ter todos os
eletrônicos por menos de um dólar e foi como distribuir “big mac” com
“milk shake” numa colônia de férias.
Ґ Refeita a euforia, mas não freado o consumo, vê agora o mercado
que a brecha numa represa cheia não poderia mais ser contida, e tão
certo como a chegada da primavera ( com o aquecimento global,
nem esta é mais tão precisa), é o estouro da represa e inundação
global de produtos não só chineses, mas que trafeguem na mesma
filosofia de produção. Eles estabeleceram os novos rumos,
redesenharam a revolução industrial. Não serão mais apenas odiados
nem invejados, mas imitados com toda certeza. Certamente eles
também percebem o estrago que fizeram e mais cedo ou mais tarde,
por sua própria sobrevivência, terão que rever seus modos grotescos de
aríete comercial e passar a negociar frente à frente com seus
compradores. Mas até lá, salve-se quem souber. O dragão de
Napoleão acordou com fome e pôs-se a devorar o mundo.
Ґ Devemos entretanto reconhecer que o erro foi nosso, do ocidente, por
subestimarmos as águas por demais silenciosas de uma nação que
soube transigir de uma sangrenta impopularidade, para o sonho de
consumo de qualquer empresário do mundo. Sua sabedoria milenar se
encontra ao alcance de qualquer teclado com uma conexão
razoável de internet, e por mais produtos que tenham feito, não basta
tê-los em estoque para comover o mercado, mas é preciso que o
mercado reconheça sua utilidade e passe a consumir estes produtos.
Ґ Têm os chineses alguns paradoxos, como capacidade para copiar,
baratear e reproduzir aos milhares, qualquer coisa que lhes caia à mão.
Qualquer uma. Vantagem nossa, que ainda precisamos enviar-lhes os
originais para que nos sirvam de mão de obra barata. Vantagem nossa
que, como ainda há muita coisa que copiar, eles ainda não tomaram
tempo para desenvolver suas próprias criações, mas com a nossa cara.
E este é o ponto. Ainda é a nossa vez. Não sabemos até quando. Mas
a fila anda e temos que agir depressa, porque depois..bem, depois é
depois.
Ґ Mas a couraça da Grande Muralha não é completamente
indevassável. Há brechas, e é por estas brechas que podemos entrar,
aspirando conhecimento, tecnologia e sabedoria milenar. Aí é que
começamos a falar de bambu. Tudo na China gira em torno de
bambu. Confúcio (Kung Fu Tzu), pensador chinês da Antigüidade
afirmou certa vez que a China poderia viver sem carne, mas jamais
sem bambu. Dominam os chineses mais de mil técnicas de uso desta
gramínea, mas por mais paradoxal que seja, há pouco mais de vinte
anos é que aplicam uso de tecnologia ao conhecimento antigo, e
produzem chapas e pisos de taliscas de bambu, isso falando para o
setor moveleiro, e de acabamentos finos. Já conhecidos são seus altos
andaimes, que atingem cerca de quarenta andares, apenas com
varas finas amarradas, ou suas pontes antigas, calçados, roupas,
acessórios domésticos, papel, alimentação humana e animal, entre
outras aplicações.
Ґ Sendo assim, ainda é a China o maior produtor mundial de pisos e
painéis de bambu, seguida da Indonésia, Nova Zelândia, e bem
recentemente, na América, a Guatemala e Colômbia.
Ґ Curiosamente, as mesmas espécies de bambu que utilizam para seus
produtos, são as que temos em abundância no Brasil, com a diferença
que lá, o bambu pode ser extraído em cinco anos, enquanto aqui há
lugares que pelo favorecimento do clima e solo, podem ser colhidos
em três anos, com maior espessura e maior teor de Sílica e Legnina.
Ґ Aspectos sociológicos do Design
Ґ O Design é o ponteiro fiel de uma bússola que aponta para um norte
magnético, cuja fonte não podemos alcançar, senão nos guiarmos por
ela. A este fenômeno, chamamos Tendências. Os indicadores de
tendências são sempre subjetivos. São como portas brancas numa
parede branca num imenso corredor. São as sutilezas das frestas que
indicam o que pode ter atrás das portas, e nestas portas não há
chaves, mas segredos, códigos. São como feromônios, apenas
percebidos pelas espécies num cio temporário de oportunidades que
não voltam duas vezes ao mesmo lugar, e quando voltam, já estão
vencidos. O que diferencia o senso empreendedor comercial é o
senso de oportunidade distintamente selecionada pela sensibilidade e
visão de cada empresário diante das informações que recebe. A uns,
um cavalo veloz é apenas um cavalo veloz. A outros, uma aposta de
grande monta, não irresponsável, pela aventura, mas calculada pelo
grau de conhecimento do cavalo e de cada concorrente no páreo.
Ґ O Design não salva a economia duma empresa, mas determina sua
capacidade competitiva e postura de campeã na luta pelo mercado.
Da mesma forma, a bússola não salva o navegador, mas aponta uma
direção segura para que este, com os demais conhecimentos
agregados, caminhe para um rumo confiável.
Ґ O Ponteiro das tendências sociológicas, políticas, economicas, e
principalmente industriais, apontam, hoje, para uma direção: o Oriente.
É de lá que chegam as notícias diárias, seja das guerras do Oriente
Médio, das tendências filosóficas e religiosas do Oriente exótico, mas
principalmente da economia do grande “dragão” que despertou.
Ґ Seria ingenuidade pensar que os chineses também não estejam
preocupados em determinar uma identidade a longo prazo aos seus
produtos. Estão sim. Tanto estão que, comparativamente à América do
Norte, que lança no mercado anualmente vinte mil novos designers, a
China está preparando cerca de duzentos mil profissionais de criação,
que cairão como um Tsunami nos mercados, lado a lado com os
fabricantes, e proporcionarão um verdadeiro furacão nas tendências a
partir de então.
Ґ Atendo-nos apenas ao tema deste estudo, temos já hoje a China
produzindo cerca de 70% de todo o piso de bambu que abastece a
Europa e América do Norte, sendo a América do Sul ainda
insignificante neste cenário. Cerca de 600 mil metros quadrados
mensais são exportados para a América Latina, e disso ZERO para o
Brasil. Com os chineses que tenho conversado nos dois últimos anos,
nenhum deles conhecia o Brasil, ou no máximo sabiam o que todos
sabem: Pelé, Maradona e Ronaldo são os melhores do futebol, e
macacos, crocodilos e serpentes andam nas ruas da capital, Buenos
Aires, que eles não tem certeza se fica perto do México, ou da
Austrália. São desinformados, e não sentem o menor remorso, pois eles
tem produtos, dólares e falta de ética. O mundo que se curve.
Ґ O Brasil no Cenário do Bambu
Ґ Temos mais terras livres e cultiváveis do que a China. temos melhor
clima que o chinês. Nosso bambu cresce mais rápído e tem melhor
qualidade. A tecnologia para transformação do bambu em placas é
ridiculamente simples. Então por que não estamos fazendo? Por
ignorância completa, mas também porque nas últimas décadas o
incentivo ao desmatamento da Amazônia não deixou nenhuma
margem para que se buscassem soluções alternativas e ecológicas.
Nem precisava: a madeira tropical vem em toras, cuja unica
necessidade de preparação é cortar e beneficiar. O bambu precisa
cortar, beneficiar e reconstituir. As madeiras têm variedade de matizes,
desenhos e cores desenhadas naturalmente. O bambu é uniforme. E
assim por diante. Além disso, se nem mesmo engenheiros agrônomos,
que poderiam e deveriam conhecer um pouco mais desta gramíneas,
que pode, entre outras coisas, alimentar o gado com melhor qualidade
e mais nutrientes (40% a mais de glicose, 10% mais amido, fibras), ou os
profissionais da construção civil, que ainda utilizam madeiras caras ou
ferro para andaimes, enquanto os chineses se valem de varas de
bambu, já mencionados antes. Apenas alguns grupos alternativos e
ONGs, que são vistos mais como agitadores "naturebas" do que como
profissionais capazes de promover incremento econômico viável ao
gigantesco mercado da construção civil, estão fazendo algum
movimento tímido para beneficiar populações carentes com os
recursos ilimitados do primo alto da grama do jardim.
Ґ O Nordeste brasileiro tem alguns projetos de plantio e industrialização
de bambu para fabricação de papel. Empresarios isolados, e na
maioria deles sem recursos, trabalham de forma empírica e quixotesca
até, nas pesquisas de industrialização de bambu. No Sul há um ou outro
empresário empenhado em fabricar pisos e tacos de bambu, mas a
maioria do que se conhece sobre o bambu está nos arquivos
acadêmicos e teses de mestrado e doutorado. Nada mais. Isso significa
que conhecimento científico e tecnológico já existem e
suficientemente capacitação para que se desenhe no Brasil uma
planta, um grande projeto, ou nucleos de pequenos projetos de
beneficiamento do bambu, mas todos estão isolados. Quase não há
comunicação, e o mais importante, não há um direcionamento
mestre, um "quartel general" oficial que oriente as ações paralelas, e
sejam transformadas em beneficio social.
Ґ Evidendemente que não há motivo para pânico, pois o Ethanol levou
mais de vinte anos para se tornar viável. O Biodiesel foi mais rápido, isso
porque houve uma vontade ferrenha do governo, que teve alguém de
visão que apontou para os problemas do Golfo Pérsico e entendeu
que a América seria a bola da vez, pois é fraca militarmente, instável
politicamente e tem rabo preso com o passado no tocante ao respeito
à democracia, fazendo disso um prato cheio para uma invasão da
America do Norte sob o pretexto de restaurar a democracia, mas
ficando com a chave das bombas de gasolina. Mais que depressa o
governo brasileiro pulou na frente e sinalizou ao mundo que tem biocombustivel.
Alardeou quase nada o fato que é auto-suficiente em
combustível fóssil, mas desviou toda a atenção do mundo para o
potencial incalculável de abastecer os aquecedores do hemisfério
norte com as enxadas dos Sem Terra brasileiros.
Ґ O mundo não considera a questão da madeira como de segurança
fundamental, mas aponta o dedo para a Amazônia e suas
intermináveis queimadas, como a terceira causa do aquecimento
global. E isso preocupa a todos. Preocupa até mesmo aos americanos,
mas que fingem nada saber, sendo eles próprios os maiores emissores
de poluentes que destroem a proteção de ozônio, porque têm eles
duplo propósito em fazer ouvidos de mercador neste momento: porque
querem chupar a fruta ainda até que saia um pouco mais de caldo, e
porque têm argumentos quase suficientes para encenar ações
"protecionistas" à Amazônia, e garantir que se eles não podem rapar o
tacho, nem nós tampouco.
Ґ Temos ainda em relação ao bambu uma questão bastante
confortável, pois sua taxonomia e conformação biológica permitem
ajustes a todo e qualquer lugar em que for plantado. Primo, que é da
cana de açucar, dispõe das mesmas prerrogativas de espaço
eambientação. Ou melhor: a cana depende de plantio anual. O
bambu é plantado uma única vez. A cana precisa ser plantada em
terrenos planos. O bambu pode e deve ser plantado em qualquer
lugar, a começar pelas encostas de rios como contenção para evitar
açoreamento. A cana que é colhida manualmente precisa ser
queimada. O bambu não deve ser queimado. A sobra da cana das
usinas é usada como bioenergia, aquece caldeiras. O bambu
também. A cana produz álcool e seus derivados (incluindo cachaça).
Bambu produz, segundo os chineses, que sabem muito de bambu, mas
de mil produtos. Repito: MIL PRODUTOS. Inclusive móveis.
Ґ Bambu no Mobiliário
Ґ Sugerimos algumas formas imediatas de uso do bambu industrial para
que Sejas aplicadas ao setor moveleiro no Brasil: Painéis, taliscas
moldadas, in natura, laminado ou em fibras para fabricação de MDF e
papel.
Ґ De forma imediata, podem ser usadas as taliscas cujas máquinas já
são fabricadas no Brasil (empiricamente, mas com bom resultado). Há
pequenos ateliers que revestem painéis, constroem quiosques e outros
objetos a partir de espécies variadas de bambu. O mercado brasileiro
da Alta Decoração já vê com bons olhos a aplicação bem dosada de
desenhos em superficies de móveis e objetos de decoração, bem
como painéis e paredes.
Ґ Há uma diferença estrutural na utilização dos painéis importados da
China, cujos fabricantes já nos forneceram ao longo de tres anos de
negociação todas as informações de que necessitamos para
empreender um trabalho de importação de painéis e pisos acabados.
Enquanto os painéis chineses são fervidos por 72 horas, autoclavados
para tratamento contra xilófagos e fungos, e secos em estufa, e só
então montados e usinados, no Brasil ainda há um caminho a percorrer
no tocante à produção em larga escala das taliscas (varetas que
compõem os painéis), mas já se pode contar, como falei, com
pequenos fornecedores, que podem crescer, além da inclusão de
investidores num projeto mais arrojado. Seja qual for a opção, o tempo
urge e a hora é agora. O trem vai passar, entra nele quem souber onde
quer chegar
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