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Tendências e Empreendedorismo - Gramado como Modelo Palestra

sábado, fevereiro 23, 2002

Prá gringo ver ( e comprar)

Pacard* - Paulo Cardoso Designer

Inconformado com o fato de que somos insignificantemente pequenos no universo das exportações de produtos industrializados a partir das nossas florestas (de nosso, levam apenas as toras brutas e nos deixam de paga a fama de destruidores da Amazônia, insensiveis, selvagens, etc), conversei com uma amiga, espanhola, agente de exportações para a Europa de artigos brasileiros. Expus a ela minha curiosidade sobre o porquê de não exportarmos mais móveis, se temos tecnologia, matéria prima, mão de obra, preços acessíveis e qualidade. A resposta então veio de chofre (ainda se usa esta expressão?): o Brasil não oferece design. E foi além em sua rude conclusão: "tentei oferecer uma linha para os italianos e espanhóis, e, quando olharam simplesmente disseram que o que eu mostrara eram os modelos que "eles" haviam mostrado nas feiras de Milão, Valência, Frankfurt e Paris nos anos anteriores" - respondeu minha amiga.
Deste fato concluo algumas verdades e uma mentira, mas que por ser tão repetida passa por verdade. A primeira das verdades é que vi muito brasileiro catando catálogos e comprando peças nas feiras internacionais para repetí-las com pequenas modificações, com isso achando que enganam os direitos autorais e os próprios compradores. A segunda delas é que só fabricamos "sapatos" porque todos lá usam sapatos, e com isso nos acovardamos de mostrar que há outras coisas a se fazer com os pés. Só oferecemos o que lá pode ser encontrado no estado original, mas nos falta coragem para mudar conceitos, costumes e produtos.
E a grande mentira é que não temos design. Ora, temos sim senhor. E dos melhores que há no mundo. Mas sabe porque não vendemos nossos produtos com nosso design? Porque eles mentem na nossa cara e nos fazem acreditar que seremos sempre rapa do mundo. E fazem isso tão bem que a grande maioria dos designers brasileiros trabalham quase exclusivamente para o parco (eu disse "parco", com "a") consumo nacional, concentrado nas categorias mais populares.
A grande verdade disso tudo é que o mercado externo gosta da nossa madeira, da nossa mão-de-obra barata, do nosso design até, pois dificil é o concurso em que pelo menos um dos prêmios não seja destinado a um brasileiro, mas a combinação disso tudo é que complica.
Esse descrédito pode ter fim, mas é preciso em primeiro lugar que o empresário tupiniquim acredite que não é brega gostar de verde e amarelo. Brega é precisar demitir funcionários porque não quis investir em mudanças enquanto ainda isso fosse possível. Brega é engasgar ao tentar dizer o nome do designer importado para dar status à sua empresa, enquanto profissionais que falam sua própria língua precisam disputar lugar na fila do chá-de-banco à porta das empresas para tentar mostrar que o cheiro da terra pode até ser perfumado. Brega é chegar no exterior, comprar alguma peça para copiar e depois descobrir que foi produzida pelo seu vizinho, naquela fabriquetinha chinfrim, cuja conseguiu enfiar meia dúzia de produtos num balaio promovido pelas feiras comunitárias que o governo costuma subsidiar, e depois acabar esquecida nos relatórios empoeirados das estatísticas de fornecedores de trabalho barato, e com isso se achando mega exportadores.