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Tendências e Empreendedorismo - Gramado como Modelo Palestra

segunda-feira, outubro 08, 2012

Expectativas, dilemas e alternativas para o mercado moveleiro


Expectativas, dilemas e alternativas para o mercado moveleiro
Pacard – Designer e Consultor*
O que são tendências?
Costumo comparar as tendências com o clima. Por exemplo: um céu azul com limpidez e luminosidade abundante é o cenário ideal para um piquenique, pois mesmo que seja avistada uma pequenina nuvem no horizonte, e atrás dela outra e mais outra, ainda assim não há motivo para preocupações. Mesmo assim, não custa nada ficar com um olho no sanduíche e outro no horizonte, pois os ventos podem mudar (e mudam) sem aviso e em pouco tempo, o céu escurece, ouve-se o primeiro trovão ao longe e logo a seguir, um temporal acaba com o farnel tão delicioso.
O mercado não é diferente. O vento das tendências é semelhante à pequenina nuvem da metáfora. Sopra de mansinho e traz mudanças imperceptíveis para quem está no meio do cenário. Semelhante ao clima, nenhuma mudança acontece sem indícios que permitam uma recolhida estratégica para que estejamos preparados para as intempéries do mercado com seu humor traiçoeiro.
Não há uma fórmula para prevenir calamidades, nem desvarios da economia, ou a invasão de mercados mais agressivos. Mas há alguns parâmetros que permitem uma avaliação equilibrada da direção do vento, para que se possa estar preparado para as mudanças sem sobressaltos.
Desta forma podemos definir como tendências, as mudanças de costumes, que apontam para modificações no modo de ser das pessoas. O “Google”, o “Facebook”, o “Twitter” e outros aplicativos que formam as redes sociais, configuram mudança de comportamento na sociedade. As pessoas trocam as cartas pelo correio, o uso do telefone ou os telegramas, pelas mensagens por email, recados na sua página pessoal ou criam blogs que substituem diários ou agendas pessoais. Surgem poetas, escritores, cronistas, jornalistas, romancistas e críticos de arte, cinema, moda todos os dias, numa desenfreada ânsia pela notoriedade, ao ponto de se permitirem posar em exposições, muitas delas ao ridículo total, apenas porque necessitam ser vistos, por um minuto, dez segundos ou por uma fração de olhar.
O Ser Humano tem necessidade de se fazer notar. E por ser humano, as necessidades mudam de acordo com a temperatura ou teor de umidade do dia. E estas mudanças podem ser observadas, armazenadas e transformadas em padrões de comportamento. A estes padrões, damos o nome de Tendências.
Como o mercado moveleiro percebe estas tendências?
Minha tarefa como consultor se traduz na árdua missão de encontrar empresas em estase1 e prover á elas uma catarse2 de seus medos, incertezas e erros ideológicos, e levá-las, por meio de seus gestores e colaboradores a buscarem o caminho de volta para encontrarem por si mesmos o gargalo tático e a partir desta leitura, promoverem uma releitura de seus valores e principalmente dos valores do mercado, do comportamento do consumidor, para que possam retomar e acelerar a retomada de seu sucesso anterior. Há ainda casos em que não há erros passados e o que se busca é justamente uma linguagem acessível para que possam interpretar a direção dos ventos do mercado.
O setor de móveis, infelizmente, está com frequência na “lanterna” deste reconhecimento das tendências. É o último a aderir às transformações, mas o primeiro a sentir as consequências negativas deste atraso. É um desafio que temos, promover e prover esta orientação ao setor produtivo deste mercado, porém um desafio de grandes proporções, pois não se trata de “convencer” os fabricantes, os lojistas ou os representantes, ou ainda os designers de produto e interiores, ou o consumidor. O desafio
compreende uma sincronização do alcance deste comportamento, considerando que se de uma forma geral estamos todos interligados ao mesmo processo, pois somos ao mesmo tempo fabricantes, consumidores, gestores, formadores de opinião e participantes do coletivo que envolve esta poderosa engrenagem social.
Posso dar alguns modelos destes paradigmas1 para melhor compreensão do desafio ( não gosto de usar a palavra “problema”, pois pressupões algo que nos faz sofrer, causa tristeza, depressão. Já um desafio propõe busca de iniciativas, de ações positivas de análise, críticas e soluções). O primeiro modelo está no fator histórico, onde há poucos anos atrás, um pequeno marceneiro vendia móveis e ganhava pelo volume da demanda dos clientes, proporcionada por costumes comportamentais, tais como a necessidade de aquisição de uma estante enorme, porque nela seriam guardados e expostos livros, enciclopédias, equipamentos sonoros, receptores de TV, em geral grandes, molduras com fotos de família e uma escrivaninha acoplada, que permitisse uma máquina de escrever, papéis, canetas, acessórios, telefone e um abajur.
As redes sociais e as novas tecnologias suprimiram as fotografias. O internet suprimiu as cartas. O “tablet” e o “notebook” suprimiram a máquina de escrever. O “Google” suprimiu as enciclopédias e o “facebook” suprimiu o telefone. O receptor de TV, antes uma caixa enorme, feia, desengonçada, foi substituída por uma TV de “LEDs, que mais parece um quadro moderno e não necessita mais do que uma estreita prateleira para suporte dos equipamentos periféricos e receptores. No dormitório, os closets tomaram o espaço dos roupeiros convencionais. Maiores, mais espaçosos e de fácil manutenção, podem ser projetados, fabricados e montados em menos de 48 horas nos grandes centros onde existem lojas especializadas em fornecer componentes e placas pre cortadas. A cama foi substituída por uma grotesca caixa de madeira revestida com elegância por um assemelhado de colchão, e tomou lugar das frágeis e barulhentas camas de madeira. Apenas um painel decorativo separa a cama da parede e nada mais. E o pobre marceneiro se viu sem serviço em menos de uma geração. O talento de oficiais de marcenaria foi substituído por modernos centros de usinagem (CNC), verdadeiros Robôs que cortam, furam, esculpem e detalham com perfeição centenas ou até milhares de peças e componentes por dia. O velho marceneiro com óculos turvos e avental de couro puído e entumecido pelos anos foi substituído pelo jovem profissional de marcenaria egresso das escolas do SENAI ou contratados dentro de outras fábricas mais preparadas. Ele não necessita mais deixar um pedaço da mão em uma máquina perigosa ( antigo símbolo de competência para um bom marceneiro), porque eficientes e eficazes programas de segurança do trabalho antecipam pontos cegos na empresa e providenciam recursos para que haja fluência com qualidade e baixo custo.
Poderíamos discorrer por horas a fio sobre todas as modificações que estão acessíveis ao profissional de marcenaria ou do móvel seriado, porém não há necessidade, posto que o foco deste artigo é apontar a causa, a forma e o modo de ação das correntes migratórias deste mercado. Desta forma entendo que cabe tanto aos profissionais de produção, quanto ao marketing e comercial, financeiro, enfim, as veias propulsoras da matriz produtiva, estarem posicionados e preparados para as mudanças, buscando neste farol indicador que mencionei, os primeiros indícios das curvas, picos e hiatos que alteram a sociedades e a planta produtiva do setor moveleiro. E muito mais vem pela frente. Quem sobreviver, verá.
Não quero encerrar sem falar sobre algumas das inovações deste mercado que estão chegando há algum tempo, mas ainda há muito por acontecer.
 Madeira
O setor madeireiro no Brasil teve uma trajetória conturbada e meteórica. Tendo seu ápice nos anos 70 com o início da devastação da Amazônia, as madeiras nobres encontraram pronta aceitação tanto no Brasil quanto no mercado externo. As trocas ocorreram à medida que havia oferta das espécies por seu turno, ora imbuia e cedro ( do Sul), cerejeira,
mogno, castanheira, marfim e tantas outras que se alternavam de acordo, primeiro com a oferta de novas espécies, motivadas por preço ou volume, depois pela demanda promovida pela continuidade e formação de preferências, permitindo que aqueles que antes apenas ofereciam, depois se tornavam “garimpeiros” de oportunidades, deixando a zona de conforto do permitido e se aventurando no arriscado pelo lucro garantido.
 Painéis
 Com o advento de novas tecnologias provenientes da Europa e América do Norte, os painéis, antes resumidos a aglomerados, que atendiam às classes populares, seja com acabamento laminado com fenólicos, ou revestidos com papel resinado, contribuíram para a democratização do móvel junto ao mercado. Com uma tímida desconfiança dos fabricantes no início dos anos 90, ingressa o MDF com força total a partir do terceiro milênio, tornando-se referência de marketing no tocante à qualidade, onde tornou-se referência no apelo de vendas o chamado “100% MDF”.
 O Aglomerado, antes visto com desconfiança pela falta de qualidade e baixa resistência, recebeu um reforço de tecnologia e foi transformado em MDP.
 O ingresso dos revestimentos melamínicos mudou o comportamento do consumidor, que encontrou neste revestimento valiosas oportunidades para adquirir seu mobiliário com características contemporâneas, de fácil execução e acessível, pela baixa exigência de equipamentos e experiência aos profissionais que trabalham com este material. Os melamínicos ou BPs (Baixa Pressão) multiplicaram as possibilidades de acabamentos, cores e texturas. Estudos de tendências (hoje chamamos de Referências) apontavam para uma necessidade de madeiras como aparência nos acabamentos. Vieram os amadeirados. Outra referência aos apelos táteis (partindo da referência das sensações, dos sentidos, do sentido tátil) são as texturas que simulam superfícies naturais. Ainda com o advento da questão sustentável, inicialmente surgiram as madeiras e materiais de demolição, que depressa arrefeceram a oferta, pela falta de reposição , mas que foi bem aceito pelo mercado, vieram as tecnologias de “distressing”, que simula aparência antiga em materiais renováveis, e ainda mais recentemente, os melamínicos com uma soma de texturas e imagens gráficas, levando ao consumidor qualidade aliada á beleza e praticidade, com economia.
 Acessórios
 A globalização dos anos 90 em diante e também a sua contrafação, a “Desglobalização”, com todos os seus paradoxos3 trouxe, entre suas vantagens, o fácil acesso ás tecnologias, antes comuns apenas na Europa e América do Norte, através de importadores e grandes distribuidores, ou mesmo fabricantes, que trocaram seus parques fabris por depósitos de produtos importados, tornando-se eles próprios, grandes distribuidores destes produtos em território brasileiro. Em destaque entre estes produtos estão os acessórios, ferragens, puxadores e aramados, hoje com preço acessível e qualidade aceitável pelos padrões internacionais. O próspero período de exportação permitiu e até mesmo exigiu que houvesse uma qualificação dos fabricantes em relação a estes materiais. Desta forma, ganhou o consumidor em todos os aspectos e tornou-se agente inverso do sopro das tendências, se permitindo receber as tecnologias que as engenharias somadas (florestal, química, industrial) aos modernos conceitos de marketing, econômicos e comerciais proporcionaram e ainda irão proporcionar cada dia mais ao bem estar de cada um. O agente maior e o objetivo final de cada uma destas tecnologias, deve estar focado no ser humano.
 Comunicação e Mercado
 A internet mudou o mundo e o mundo mudou o jeito de ser da pessoas. O setor moveleiro, mais uma vez, ainda é tímido nesse aspecto. A primeira empresa “Pontocom” que surgiu,
na intenção de vender méveis nos Estados Unidos, a “Furniture.com”, faliu em menos de dois anos de funcionamento. Outras porém prosperaram e cada dia mais a internet se torna um agente precioso na prospecção de marcas e produtos. Porém, o hábito de comprar roupas e móveis com um clique ainda não tocou os costumes do consumidor brasileiro, que precisa tocar em tudo que compra antes de comprar. Mas vai tocar. É questão apenas de maturação. O mercado está quase pronto para este dia.

Glossário:
1 – Estase – Estado inerte, letárgico, desmotivado. (Antônimo: Êxtase – Euforia)
2 – Catarse – Extravasar, purgar aquilo que incomoda, purificação.
3 – Paradoxo – Contraditório
*Pacard Designer
Pacard é o acrônimo de Paulo Cardoso, designer, consultor e educador profissionalizante.
www.pacard.blogspot.com – www.pacard.carbonmade.com – dpacard@gmail.com
(48) 3028 4515 – 9961 1546 – Florianópolis SC Brasil