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Tendências e Empreendedorismo - Gramado como Modelo Palestra

terça-feira, agosto 03, 2010

As Sombras da Janela
Pacard

"Eram pássaros pequenos e nada mais. Apenas pássaros. E pássaros que não podem voar, não podem ser pássaros, pois voar é preciso para que sejam cada vez mais pássaros. E livres possam voar..."

Ouvia Debussy. Em plena metade da manhã, ele ouvia Debussy. 
As manhãs não foram feitas para Debussy. Talvez Vivaldi. Debussy, não. Este tem seu lugar ao entardecer. Chopin, vem logo mais adiante, no alto da escuridão. Mas para as manhãs,  Grieg poderia fazer companhia aDebussy.
No entanto ele ouvia Debussy enquanto a mão trêmula desenhava algo no vidro suado da janela. Desenhava ou escrevia. A água condensada pelo calor da mão escorria fazendo borrar  o que já havia desenhado. Pareciam circulos, repetidos, mecânicos.
Mas seu olhar não mirava as mãos que parecia mecânicas no gesto hipnótico de circular no vazio. Olhava num ponto perdido entre o infinito de seus pensamentos e o horizonte avermelhado.
Uma lágrima verteu enquanto premia os lábios contendo o choro. Mas a alma já chorava havia muito tempo antes. Lá fora, o sol brincava de ir e vir entre nuvens apressadas, e o riacho murmurava quebrando o silêncio. Um pássaro perdido buscava gravetos com pressa própria dos pássaros, compensando o inverno que avisava de sua chegada. Com chuva. Fina e fria. Fechava-se o céu. As cores mudaram e cada vez mais embaçado o vidro ficava.
Debussy no velho toca-discos, continuava a tocar numa interminável homilía ao amor perdido. Numa elegia à solidão. Numa compensação pela dor. Apenas se quebrava a mágica combinação da música com a paisagem e o pensamento, o ruído das falhas do disco de vinil antigo.
Ele havia sonhado voar alto, mas calculara errado o alcance do vôo. Suas asas, como as de Ícaro, se partiram, escoaram no sol da realidade, e o levaram a estatelar-se no chão. Restava agora o recomeçar. Sem as asas, que eram seus sonhos. Com a dor da queda. Apenas ainda o olhar aguçado, para que disteante pudesse ver e sofrer pelo que havia perdido.
Seus sonhos eram tantos. Uns tangíveis, outros brumas. Pequenos sonhos povoavam sua alma como uma multidão de pequenos pássaros voejando em sua existência. Eram pássaros pequenos e nada mais. Apenas pássaros. E pássaros que não podem voar, não podem ser pássaros, pois voar é preciso para que sejam cada vez mais pássaros. E livres possam voar...
A música acabou, mas o disco continuou a girar. A agulha travou e o último acorde se repetia interminavelmente da vitrola....
Seus pensamentos se repetiam em pequenas partes. Apenas as partes boas de sere lembradas.

Entre o Sonho e o Tempo
Pacard

"Fui pequeno quando nasci. Tornei-me grande ao me ver pequeno diante do mundo. Hoje sou do tamanho do meu sonho."
Pacard

A primavera foi-se tão rápido. Nem permitiu que ele visse todas as flores que cruzaram seu caminho. Deveria tê-las catalogado, uma a uma. Mas o perfume não seria possivel. Claro, havia como roubar das flores a fragrância e a indelével maciez das pétalas. Mas então teria que interromper seu ciclo de vida. Mas pra quê? Vida tão curta. Tantos caminhos por andar, mundo tão grande por se deixar acontecer. Não. Deixou as flores onde estavam. Haveria nova primavera. Viriam novas e repetidas primaveras.
Quanta certeza disso. Então, silenciosamente, ele parou, olhou o mundo do alto de uma árvore bem alta e sentado horas a fio num galho confortável, ele concluiu:
Fui pequeno quando nasci. Tornei-me grande ao me ver pequeno diante do mundo. Hoje sou do tamanho do meu sonho.
Deixou o entardecer chegar, desceu da árvore, e silenciosamente, partiu junto com a primavera.
Foi buscar novas flores.  Respirar outros perfumes. Sentir brisas de além do horizonte. Continuar a viver, onde quer que houvesse vida e sonhos para se deixarem viver por ele.
Serenamente então viu-se seu vulto andarilhando rumo ao poente...
Vergonha na Cara
Pacard
 Isso é um negócio que uns têm. Outros não. Eu explico: mentira por exemplo. Quem admite que é mentiroso, mas assim , na cara dura, deslavado? Que eu saiba, ninguém. Pois muita gente é. E se for chamado de mentiroso, tipo assim, na lata, no dedo em riste, ah, mas vira bicho. Diz que lhe ferem os brios, e que pataquá, e etecétera. Mas continua sendo mentiroso. E sem caráter. E como, mas como tem gente desse tipo.Vejamos um exemplo: Ah, esta é uma prova para saber se você tem caráter, se é honesto, se tem vergonha na cara e se não é mentiroso. Vamos ao caso:Você está fazendo algo, mas não se caracteriza como algo absolutamente urgente. Nada o impede de divergir do assunto uns minutinhos , porque não fará a menor diferença. E o telefone toca. Pronto: está armada a circunstância propícia para começar sua cota de mau caratismo do dia. Talvez a primeira de uma série delas. Bem, nesse tempo, o telefone já tocou novamente duas vezes. Voce grita: “Mas ninguém atende essa merda de telefone?” (esqueci de mencionar que a merda do telefone está na mesa à sua frente. Alguém é generoso e atende:- Alô! Quem? Fulano? Ah, … (e voce imediatamente inicia um balé de sinais pra saber quem é).- Um momento, sim. Vou ver se está. Aí entra “Kalinka”, aquela outrora tão linda e sentimental melodia russa, agora tão banalizada pelo som de “bits”. Diria até que se trata já do hino nacional da mentira.E você diz, aos gestos apavorados de uma coreografia sofrida que “de jeito nenhum. Que você soube de um parente em coma no Alasca e que foi obrigado a prestar solidariedade a uma família de afegãos que dependiam emocionalmente desse parente, porque eram refugiados no Egito”. Isso. Essa seria uma desculpa aceitável pra não atender nenhuma espécie de telefonema. Afinal, o que as pessoas pensam? Que podem pegar num telefone e sair ligando pras pessoas? Mas com quê direito?- Alô. Desculpe a demora…é que tive que correr atrás do avião na pista molhada, mas já havia decolado..infelizmente..foi visitar..blá..blá…blá.- Não, infelizmente não há a menor previsão de retorno, não pelo menos enquanto o PT estiver no governo.. mas, o senhor gostaria de deixar recado? (e diz isso com a voz mais cândida do mundo) Não? Deixe então seu telefone, que o fulano vai ligar, assim que retornar..está anotadinho aqui. Não se preocupe. Obrigado.As desculpas variam. Ora é para o Alasca. Outra vez é desencalhar o Rainbow Warrior dum poço de petróleo incendiado pelos anti-ecologistas no Cáucaso. Tem vezes que não há desculpa alguma: simplesmente o telefone fica fora do gancho (eu ainda vou escrever sobre isso: porque raios se chama “gancho”, se nem gancho tem mais. Ou por que se chama “discar”, se é tudo com teclas?), e a vítima que se lasque.E então: pronto. Você mentiu. Mentiu descaradamente. Mentiu porque é um covarde. Mentiu porque não tem a menor consideração com as pessoas. E mesmo que na outra linha esteja um chato, voce mentiu porque não tem peito pra dizer: Pô, não me amola. Eu não quero falar com você. Não me ligue.Mas por que se expor, se mentir é mais barato? Mais divertido? Menos agressivo? Afinal, você É civilizado. E nesse caso, mentir é uma marca de sutil elegância.E depois você se queixa que este mundo está pior, porque as pessoas não são verdadeiras. Porque os valores morais foram apagados pela busca do ter em lugar do ser. Pelo mau caratismo dos outros.E há outras mentiras que varrem a sua vida. A mentira do cheque que um caloteiro lhe passou, e por isso não pôde saldar um compromisso no dia, quando simplesmente você não tem coragem de dizer: “Não pude te pagar hoje. Calculei mal, errei no meu planejamento. Gastei o que não podia e comprei o que não devia, e agora me ferrei. Mas sempre tem outro na ponta da linha. Sempre os outros são os culpados pelos nossos infortúnios.Por que não assumir de uma vez, passar uma vassoura na sujeira da nossa vida, assumir que cometemos burradas atrás de burradas e dizer: pronto. Desabafei. Errei. Fiz besteira. Mas não quero mais errar. Não quero mais mentir, não quero mais emporcalhar minha honra nem fazer as pessoas de bobas. Não quero mais embromar as pessoas. E se o fizer, quero ter a dignidade de voltar atrás e dizer: “Me perdoe, porque eu fui sacana”.Mas, claro, que isso quem tem que fazer são os outros. Você é perfeito. E se você é perfeito, então você é quase um deus. E se você se sente um deus, então você é um mentiroso, porque Deus só há Um. E nunca mentiu.>>O direito de estar erradoPaulo CardosoTemos todo. Principalmente porque erramos o tempo todo. Felizmente, porque os erros são nosso grau de colação na tão promulgada “Escola da vida”.Diz o adágio popular que só o homem tropeça duas vezes na mesma pedra. É verdade. Mas também só o homem pode se perguntar: “por que botaram esta pedra no caminho?”Diz-se do homem ser fruto do seu meio. Meia verdade nisso, porque conheço gente decente neste mundo, e dizem que este mundão velho não é mais de se pegar com a mão. Meia mentira isso também, porque já encontrei pessoas que nasceram e foram criadas em famílias exemplares, mas se tornaram vegetais sociais.Diz-se do homem ser um animal social. Não se compara: animal social pra mim é a formiga. Não Bush nem Bin Laden. Diz-se também do homem ser o melhor amigo do cão. Não? Ah, é o contrário? Justificado então os criadores de pitt bulls.Diz-se que aqui se faz, aqui se paga. Ah, tá. Falem isso ao governo que daqui toma e lá for a tanto paga. Mas tamb´m se diz que cada povo tem o governo que merece. Pode ser. Todos devem ser castigados para se purificar e aprender a errar menos. Ah, mas dizem, isso eu não posso afirmar que saiba por mim mesmo, mas dizem, que em priscas eras o salário mínimo era o mínimo justificável para se chamar de salário, isto é, a justa paga por um dia de trabalho. Ah bom, mas isto não mudou. O salário mínimo é exatamente o suficiente para o que o homem necesita dar à sua família em um dia de trabalho. O problema é que o mesmo dinheiro precisa durar um mês.Acho que estamos exercendo com louvor nossos direitos todos: o de errar, e o de pagar pelos erros dos outros. O de falar, e o de pagar políticos para que falem por nós. O de viver, e o de atrapalhar aqueles que vivem à custa do dinheiro que falta dentro do mês em nossos salários
Uma Paixão
Pacard
"Fêz-se o ocaso de sua paixão. E como ele era todo paixão, sublimou-se no entardecer."
Conto
Pacard

-Onde vai no fim de semana?  Era uma pergunta simples. Corriqueira. Quase esquecida, não fosse a resposta:
-Vou à praia, respondeu ela docemente.
Natural, era verão. Todos, ou quem pode, vai à praia.
-Com quem? Família toda?
-Com uma amiga.
Ele não perdeu oportunidade para  uma natural gracinha:
- Ah  que vontade de ir à praia. (nem era tanta assim. Mas puxava assunto. Ganhava minutos na presença dela).
- Porque não vai comigo? perguntou com candura.
Ele estremeceu, e continuou:
-E o que teria eu de bom na praia?
-Teria minha companhia, ela respondeu.
Ela se despediu dizendo: "te adoro muitão".
Não havia mais coração dentro dele. Havia, mas não era mais o mesmo. Disparou. O que um homem de cabelos grisalhos poderia fazer com a informação que uma menina de vinte anos o convidara para acompanhá-la num fim de semana na praia?
Ele tinha mulher e filhos. Ela tinha a juventude ao seu encalço. Ele era experiente e cansado. Ela tinha o brilho no olhar que ele não via mais desde  muito tempo atrás.
Ela era pura e casta. Ele era um andarilho da vida. Homem bom, honesto, trabalhador, pai exemplar. Era medianamente feliz. Perambulava pela vida sem se fazer notar, embora buscasse ser notado o tempo todo. E ela o notou. Esse foi o seu mal. Por alguns momentos, ela percebeu sua presença. E ele percebeu isso. E por causa disso, desejou viver. Desejou ser mais intenso. desejou intensamente sua juventude. Desejou intensamente que ela lhe emprestasse juventude. Ele a amou com toda a profundidade do seu coração. Jogou sua âncora na profundidade de suas águas cheias de mistério. Quis navegar em suas brumas. Mas seu leme não era firme. Seu norte se perdeu. As águas tragaram sua nau.
Seus dias agora percorriam o caminho oposto ao ocaso, mas o ocaso é bem mais velho, bem maior. E com a mesma intensidade que veio, o brilho deste sol se foi. Súbito como a morte. Certeiro como as águas que correm para o mar. Era sabido. Mas não era desejado.
Serenamente, o ocaso veio. Tornou-se seu algoz. Tênuamente desaparecia no horizonte (aquele lugar mais além, tão imaginado, mas impossível) brumado pelo rubro entardecer, abraçado pela noite, seu devaneio .Fêz-se o ocaso de sua paixão. E como ele era todo paixão, sublimou-se no entardecer. O sonho acabou.
Voltou ele ao seu mundo. Ao seu monastério. Não mais se ouviu dele falar. Tornou-se um mistério. No entanto, muitos o ouvem chorar sempre ao entardecer. Um choro silencioso. Um silêncio doído, sufocado pelo anoitecer.
A noite o serenizou.
Cada um tem sua própria história. Até mesmo que que não têm história nenhuma para contar, ou então os que não saibam contar sua própria história, definitivamente têm uma história a ser contada. Para ter uma história, basta deixar que o tempo passe. E para que o tempo passe, não é preciso fazer nada de especial. Ele passa mesmo assim.
O que nos torna especiais, valiosos ou não, é a nossa história pessoal. Umas ricas. Outras medíocres. Mas todas elas são histórias. A minha, a sua, a de cada um e a de todos nós juntos.
Esta é a minha.
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SERRA DO PINHÃO
Vencer não é só vencer, mas perseguir vitórias. Cada dia tem a sua vitória e cada dia tem percalços. Um de cada vez alguém deixa a arena: os tropeços, ou as vitórias.
A Serra do Rio Grande do Sul é desenhada por belíssimas paisagens entalhadas por vales, montanhas, rios, campos e matas. Cada detalhe desenha um manto multicor de vida que bem poderia ser um preâmbulo do Éden distante.
Pássaros que acordam o dia trinando sinfonias. Raios de luz que douram o vazio das árvores e uma brisa fria que rompe a manhã num sopro sereno. Finas gotas de orvalho parecendo diamantes líquidos. E o perfume dos pinhais soprado de longe e que se misturam com os acaciais floridos. Essas são as lembranças que me avivam uma saudade poética, uma nostalgia que não oferece a mínima possibilidade de acontecer de novo. Mas é doce lembrar, imaginar, construir cenários, aspirar odores e ouvir músicas que só se pode ouvir com os ouvidos da alma. Essas melodias serão sempre tocadas em tempos e compassos diferentes, de acordo com a alma que as evoca. E minha alma evoca essas lembranças. Boas para mim. Amargas para as pessoas que não tinham, como eu, um ano de vida. Por isso que as chamo de lembranças da alma, associadas ao que mais tarde conheci daqueles cenários, porque uma criança de um ano de idade não é capaz de construir cenários, nem assimilar compassos e notas musicais, nem mesmo identificar a brisa murmurando entre as frestas do choupo em que tudo isso aconteceu no curto tempo em que conheci o lugar que nasci: a Serra do Pinhão.

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É UM TICUDO COMADRE
A Serra do Pinhão era uma das colônias tuteladas pelo Distrito de Cazuza Ferreira, e esta, por sua vez, um Distrito de São Francisco de Paula. Distante cerca de trinta quilômetros da sede, o Pinhão, como era chamado, era cortado pelo Rio das Antas, e fica no triângulo fromado pelos municípios de Sâo Franscisco de Paula, Caxias do Sul e Bom Jesus.
Ali, meus avós tinham cerca de uma colônia de terras, aproximadamente cinquenta hectares. A maior parte de encostas, algumas íngremes, altiplanos, várzeas e uma planície cultivável. Dali provinham a vida. Roça de milho, feijão, batata, legumes, enfim, o suficiente para abastecer uma família e ainda vender o excedente para manutenção dos demais víveres, como roupa, remédios e algumas extravagâncias. Poucas, nada que lembre o que extravagamos nos dias atuais.
Minha mãe tinha então 15 anos. O lugar distante em que moravam, a falta de escola e a adversidade da vida que levavam, não permitiam que ela estudasse. Então minha avó contratou um professor particular para que a deveria auxiliar nos estudos. Auxiliou. E eu estou aqui.
Por razões óbvias, vou pular os detalhes. Para ganhar dinamismo, vou ignorar conscientemente a parte em que meu pai matou, numa briga, meu avô. Vou pular o drama da volta à cidade natal de minha mãe e avó, enfim, essas particularidades só interassam ao passado ruim. Ao passado que não traz lições. Só amargura.
Mas há uma particularidade que quero lembrar, isto é, relatar o que me foi contado e guardei como lembrança minha. Foi meu nascimento.
A parteira era uma preta velha. Acho que se chamava Inácia ou Anastácia. Ou algo assim. Era costume local que a parteira proclamasse uma espécie de vaticínio ou bênção sobre o rebento ao fazê-lo nascer. Se fosse menina, dizia que havia nascido uma "costureira". Se fosse menino, seria denominado "foiceador", um adjetivo atribuído ao macho, home rude que mostraria aptidão para a lide rude do campo, do machado, da foice, da enxada.
Secretamente minha mãe, com já 16 anos de idade, desejava algo melhor para seu bebê. Não o imaginava crescendo naquele fim-de-mundo, atrelado à falta de oportunidade e ao desígnio de se tornar uma submissa costureira, ou um embrutecido lenhador.
Um sábado pela manhã, pelas seis horas, eu nasci. Não sei se cantavam bem-te-vis ou sabiás. Talvez sim. Os dois, pois eram seis horas da manhã, duma primavera, 23 de novembro de 1957. Mas não acredito que o canto dos bem-te-vis, nem o trinado dos sabiás poderia abafar os gritos de dor de minha mãe naquele instante. Apenas uma expressão a fez sorrir, dita pela preta velha: "É UM TICUDO, COMADRE"!
Minha mãe diz que sorriu feliz e esqueceu da dor. Era um macho sim. Um menino. Mas não havia vaticínio ou agouro sobre mim. Não havia lugar entre os foiceadores nem entre as costureiras daquele lugar. Meu destino era o mundo. Não era uma profecia. Mas aquela expressão tinha significado. Nem a Serra do Pinhão, nem Cazuza Ferreira, nem Sâo Francisco de Paula, nem o Rio Grande do Sul, poderiam ter ferrolhos nos portões que me pudessem impedir de sonhar nas asas do minuano.
Ainda bem pequeno então, montei na garupa do vento e galopei vida afora. Longe da Serra do Pinhão. Eu era um ticudo. Isso me bastava para domar vendavais.

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DE VOLTA À GRAMADO
Depois da tragédia, resta recolher as cinzas, lamber as feridas e recomeçar. Foi isso o que fizeram minha avó, mãe e tios. Meu avô foi morto por meu pai. Minha avó vendeu, ou melhor, deu tudo o que tinha. As terras. A alegria. A esperança. Contratou uma carreta e um caminhão de frete, isso não sei ao certo. Mas não foi nada confortável, disso estou seguro. Foram cento e trinta quilômetros por estradas de chão, carreiros por escarpas íngremes e um trajeto por um lugar chamado "Passo do Inferno", pela estreiteza do caminho ladeado sem nenhuma proteção por um penhasco de dezenas de metros de altura.
Na carreta que gemia a dor de duas mulheres, dois meninos e um bebê, as "matolotagens", numa expressão usada por minha avó. Eram os trastes, as muambas, os trapos de uso da família trazidos para a nova morada. O patrimônio que restava de uma vida de trabalho. Os poucos mijados que serviam ao rancho de tábuas toscas de pinheiro, cor de cinza pelos anos, cerno puro de pinheiros antigos, que desmanchado foi levado e reconstruído num cantinho de terra sem tamanho definido. Nem precisava: era um empréstimo de parentes condoídos.
Na carreta que rangia, havia o choro que calava quatro pessoas e um projeto de gente. Todo menino nasce para ser um rei e governar seus sonhos. Havia ali um rei governando o ânimo. Um rei "ticudo", e seu cortejo lúgubre cujos arautos trombeteavam guinchos de rodas sem graxa da carretinha puxada por mulas. Dois dias,quase três de viagem, que separavam páginas de vida. Uma antes, lá na Serra do Pinhão, uma família inteira. Depois, a página seguinte, em Gramado, onde "ninguém" era o nome dos que ora chegavam.
É muito estranho voltar. A volta, às vezes por saudade, às vezes pela dor, sempre quebra orgulhos. Não orgulho algum em voltar. A volta é humilhante. Voltar sempre é humilhante, para quem quer que volte.

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TIA MARGARIDA
O período que transcorreu logo após a tragédia, creio não precisar descrever. Dor é dor. cada um tem a sua. Lá em casa eram muitas as dores: uma morte, um crime, um desaparecimento (meu pai sumiu, foi julgado à revelia, condenado, mas nunca cumpriu a pena. Com mêdo de uma vingança, desapareceu no mundo).
Mas havia o dia seguinte. É sempre o pior. No momento da tragédia, há uma multidão que deseja participar. Confortar. Depois, um silêncio crepuscular domina tudo. Começa a angústia. A tragédia passou. A dor começou. A angústia é por se saber o que não se pode dominar: o amanhã. O que será do amanhã? Quem seremos amnhã? onde estaremos amanhã? Haverá amnhã? Há. Depois da dor há muitos amanhãs. E todos doem sempre.
Enquanto uma sobrinha de minha avó emprestava um pedaço de terreno, cujo limite eram as próprias paredes do ranchinho de tábuas, fui emprestado a uma tia-avó velha e sem filhos, chamada Margarida. Todos a conheciam como "Tia Margarida". Era casada com um mulato aposentado chamado Arcilio, mas era conhecido como "Tio Alcides". Ranzinza também. Os dois. Um par de velhos ranzinzas. E o fato de não terem filhos os transformava em pessoas amargas e insensíveis. E vou além: eram cruéis.
Pode-se pensar em como podem ser cruéis pessoas que acolhem um bebêzinho órfão de pai e avô, na quase absoluta miséria? Talvez por isso mesmo.
Fiquei lá por mais ou menos uns quarenta dias. Não lembro nada. Seria um fenômeno que eu pudesse lembrar. Mas me contaram com riqueza de detalhes que chego a lembrar com nitidez das cenas que descrevo aqui. Tenho boa memória. Tenho uma excelente memória mesmo. Como eu dizia...do que mesmo eu falava? Ah, sim, Tia Margarida.
Soube por exemplo que meu nome foi trocado pelo casal de velhos. Num desses dias fui levado ao médico e na ficha foi dado meu nome como "Hugo Luiz da Silva". Este foi, aliás meu segundo nome, pois até então eu fui batizado na paróquia de Cazuza Ferreira com o nome de "Paulo Celso Cardoso Borges dos Reis". Paulo, por sugestão de minha mãe. Celso foi idéia do meu pai. Cardoso era meu avô paterno: Assis Brasil Cardoso. Borges, de minha avó materna, uma caboclinha "cafuza", cruza de índio e negro, nascida na Bahia e criada por um casal de alemães, cujo pai adotivo era um pastor. E Reis era por parte de meu avô paterno: Donato Dos Reis, vulgo "Donato Bonito".
Na verdade pouco importava que nome me era dado, pois eu não tinha sido registrado mesmo. Isso só aconteceu aos seis anos de idade, quando fui para a escola pública. Mas eu chego lá. Tem muito brejo no meu caminho ainda até me encontrar com minha primeira professora.
A questão agora era o que a Tia Margarida fazia. Fazia e dizia: que era minha mãe natural!! Claro que poderia dar certo, pois Sara, mulher de Abraão se tornou mãe aos noventa e um anos. Tia Margarida era bem mais jovem. Tinha 58 anos ou próximo disso..a mais. Mas, enfim. Se ela era minha mãe, nada mais natural que eu a chamasse por esse adjetivo: "mamãe". E eu chamava. Fazer o quê? Ela insistia tanto nisso e me deixava comer casquinhas de queijo.
Foram as casquinhas de queijo, na verdade que desencadearam uma encrenca danada entre aquela garotinha de dezesseis anos que tinha me parido e aquela gentil senhora que perambulava pela parentalha, garbosamente miraculava-me como um rebento de sua pureza senil (era caduca mesmo).
As casquinhas de queijo, que gosto até hoje e só não como mais porque acho quem nem todos os queijeiros lavam as mãos ao transportar as bolotas para o mercado, e também porque acho que nem todos os empilhadores de queijo lavam bem as mãos após a visita ao mictório e também..bom. Não tenho comido cascas de queijo ultimamente. Mas na época de Tia Margarida, eu comia sim. Até porque era o que ela me dava como guloseima. E minha mãe (a de verdade) viu isto, no dia em que foi me visitar. Tia Margarida tinha outras visitas e generosa como achava que era, resolveu oferecer um café com mistura. Havia pão, geléia, café, leite, biscoitos e queijo. Mas ninguém podia tocar nas cascas, porque as cascas eram para o nenê.
Minha mãeo (a de verdade, não a velha impostora) viu aquilo e tomou as casquinhas da minha mão, trocando pelo miolo do queijo. A velha viu aquilo e ralhou com ela dizendo: " Não faça isso, minha filha. Assim ele acostuma mal. Ele tem que saber que criança não pode ter tudo o que deseja. Coma você o queijo e deixe que ele coma as cascas. Ele gosta de comer casquinhas. Sempre as come. Gosta também das casquinhas de pão. Eu sempre dou".
Minha mão cândidamente respondeu: "Mas eu não quero que meu filhinho coma casca de queijo. Deixe que eu dou a ele o meu pedaço".
A velha ficou possessa. "Seu filho?", esbravejou? Esta peste é seu filho então? Pois então leva ele daqui. Some com essa sarna, este piolhento. Se ele é teu, vai e cria tu mesma.
"Pois é o que vou fazer", dizze minha mãe. E saiu comigo dali para nossa choupana.
Ainda da Tia Margarida, lembro que alguns anos mais tarde, eu deveria ter sete, talvez oito anos, fui visitá-la, à tarde. Era uma tarde quente. Ela me chamou para dentro e me fez sentar à mesa. Daí, com uma doçura terrivelmente peculiar me ofereceu um pedaço de melancia. Eu adorava melancia. Era tão difícil que tivéssemos melancia em casa, mas quando tinha, minha avó generosamente deixava que a parte maior ficasse comigo. Na verdade, todos comiam muito, pois minha avó comprava sempre as maiores. Pouco comprava, mas quando comprava, era pra valer.
Minhas mãozinhas tremiam de emoção. A boca se enchia d´água e eu já me preparava para as delícias oferecidas pela doce melancia. Mas eu esquecia (na época eu tinha péssima memória, memória de criança) que entre eu e aquela doce melancia..estava Tia Margarida. Com ar astucioso ela tirou a melancia do armário (geladeira era luxo só de ricos), pôs à mesa, serviu-me um suculento pedaço bem generoso e quando eu ia levá-lo à boca, me interrompeu e perguntou com solene preocupação: "Mei filho: Você tomou leite hoje?"
-Não, Tia. Não tomei.
-Você tomou.
_Não. Não tomou.
E retirando o prato com melancia da minha frente sentenciou: "Tomou sim". Não vai comer melancia".
Eu tenho certeza que a vi sorrir escondida.
Pobre Tia Margarida. Quando morreu, na passagem do ano de 1972 para 1973, reuniu os parentes pobres. Todos. Alguns dias depois seus bens foram divididos (Tio Alcides já havia morrido bem antes), coube à minha mãe um belíssimo relógio de parede que tinha o som mais lindo que eu conhecia. Acho que era um relógio americano. Fiquei muito feliz, mas por pouco tempo, pois nem minha mãe, nem minha avó permitiram que aquela tralha ou qualquer coisa que lembrasse a velha inescrupulosa fizesse morada em nossa casa. Que pena. Era um relógio tão lindo.
Mas hoje, lembrando bem, acho que toda vez que o carrilhão tocava, me parecia ver o olho vesgo arregalado da Tia Margarida perambulando pelos cantos escuros e tramando alguma perversidade. Melhor que o carrilhão se fosse mesmo. Melhor assim.

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TIA LINA, TIA ZEZÉ, TIA LEONOR E TIO JOÃO
Todo mundo tem tios. Quase todo mundo. Tio é componente básico de todas as biografias. Quem nunca teve uma tia doida? Um tio bondoso? Quem não dormiu na casa dos tios? E quem nunca teve uma tia gorda na família? Geralmente a mais hilária, tosca, esdrúxula até?
Eu os tive. Todos. Cada um deles com suas peculiares e até hilárias facetas. Por exemplo, diante de algo espantoso, a reação deles era engraçada. Tiao João dizia: "É Tirríiiivii". Tia Margarida s encolhia, arregalhava os olhos, aspirava fundo pela boca e sentenciava: "´Miftéerioo". Minha avó, irmã desse povo exclamava: "Misericóordiaa".
Mas cada um deles também tinha particular riqueza pessoal, humana e humanitária.
Tia Lina era gorda. Tinha um largo e perene sorriso e os olhos finos e puxados, que fortaleciam sua expressão sorridente. Sempre. Conheci-a já velhinha, como todos os demais (para um menino de nove anos, velho era quem tivesse mais que trinta e dois. Todo mundo deve ter (ou deveria ter) um tio bondoso, quem distribua agrados, como os tios e tias que eu tive, que iam de um sorriso, uma história bem contada, um lanchinho ou simplesmente um olhar contemplador que exalasse sabedoria.
Gosto de falar deles, porque me evocam boas lembranças. Uma infância pobre e cercada de percalços que só mais tarde fui comprender a dimensão deles, mas feliz o quando podia ser feliz, por conta deste universo de tios, tias, primos e primas que me cercavam.
Tia Zezé. Dela vale um, dois, muitos capítulos a contar. Vale a lembrança de sua doçura comigo.
Magrinha, muito magrinha, morreu aos oitenta e quatro anos, mas com lucidez de vinte. Caminhava agachadinha e vestia sempre um vestido de algodão ou de chita que ia até quase os pés, comlementado por um perene avental, sua marca, sua vida. Avental é algo digno, nobre, pois mais que uma proteção da roupa, é uma bandeira de labor. Pois Tia Zezé, tinha seu avental, que para mim lembra batata doce assada com leite gordo até hoje. Era uma identidade. Marca sua. Um magro avental de algodão xadrez surrado. Modesto, sem nenhuma vaidade.
Na companhia de Tia Zezé e seus filhos (Jeremias, Elias, Ananías (o nome certo é Ananísio, mas acho que nem ele lembra disso), Zacarías, Malaquias, Isaías e Saulo, entre os homens, e Cândida, Alzira e Raquel, as mulheres).
Jeremías e Saulo viviam junto com ela. Saulo, o "nenê" morreu aos cinquenta e quatro anos. Era especial. Era downiano. Jeremias morreou, acho que perto dos sessenta. Não lembro a idade, mas lembro do seu jeitão sempre cortês e alegre. Um tipão de bem com a vida, fosse ela qual fosse. Falava alto, talvez pelo costume em trabalho, porque gerenciava uma serraria. Era muito magro, como todos os outros irmãos. Usava um bigodinho demodê sempre bem aparado, e no cabelo algo que fazia brilhar. Não sei o que era, mas gostava do cheiro. Porque gostava dele também. Fiz dele a figura do pai que não conheci. Uma espécie de pai, amigo e irmão mais velho. Era meu herói. Eu achava engraçado e importante tudo o que ele me dizia. Aprendi desde cedo que com um menino deve-se sempre falar como se falasse com um adulto. Com respeito. A gente não esquece nunca mais. Era assim que Jeremias nos tratava, a todos. A mim e aos seus sobrinhos. Indistintamente. Aprendi com ele a tomar chimarrão. Com ele tomei gosto pelo trabalho rude, cavar buracos, levantar cercas, plantar moirões e podar parreiras. Ele me ensinou que moranguinho "de sapo" (silvestre)" poderia ser uma iguaria digna de um palácio, se cortado ao meio, adoçado e adicionado água fria. Foi com ele que aprendi  que todos somos iguais diante duma cuia de chimarrão, um ritual de respeito e reflexão. Aprendi que se eu trabalhasse algumas horas livres por semana, eu não seria um marginal, mesmo sendo de menor, mas poderia obter a dignidade de poder pagar meus lanches do fim de semana e a entrada do cinema, nas matinés. Era pouco, mas era digno. E prazeroso trabalhar com ele na chácara, como chamava um lote separado dentro de suas terras e cheio de frutíferas, parreira, horta rasteira, um tesouro de prazer com cheiro de terra e gosto de natureza. Mais gostoso ainda era a hora do "fristique" (aportuguesamento do alemão Früstick" - lanche) que Tia Zezé nos levava numa grande cesta de vime, lá pelas quatro da tarde, abastecida com Café com leite, pão caseiro, um pedaço de lingüíça, marmelada, batata doce assada, biscoito e moranga assada para comer com leite. Tudo na mesma cesta. Não poderia haver vida melhor que aquela. O cheiro da terra ali gritando, exalado das covas dos palanques, e o vento da tarde batendo nas folhas dos caquizeiros e pessegueiros pipocando de passarinhos e borboletas douradas.
E sempre junto de nós iam dois cuscos pulguentos e amistosos, que deitavam aos pés do Saulo e do Jeremias, dedicados a nos fazer guarda.
E havia o Saulo, doce como um menino de três anos. Ciumento como um menino de três anos. Despojado, como um menino de três anos. Não sabia levantar uma enxada. Nem o machado. Não sabia nem empurrar um carrinho de mão. Mas sabia nos fazer rir com sua ingenuidade, quando cantava, tentava falar em inglês (o Jeremias resolveu estudar depois de adulto, e tudo o que aprendia, "ensinava" ao Saulo). Assim eu lembro da Tia Zezé. Do Jeremias, do Saulo. Assim eu sinto uma saudade doce da minha infância feliz.
ReflexõesPacard

1 – Os Ventos
Sempre ouvi dizer que a sabedoria morava junto ao silêncio, e resolvi então buscá-la.
Levantei bem cedo, pois o primeiro silêncio anda junto da aurora. Andei no rumo do sol e perguntei à brisa que me acompanhava:
- Conheces a sabedoria?
- Dela ouvi falar- me respondeu.Por que a buscas nesta hora do dia, em que melhor é vagar sem saber onde chegar?
- Porque sei que a posso encontrar e desejo dela sorver graça para minha vida – argumentei esperançoso de pudesse forçar o vento a me conduzir a um ponto de partida.
- Ventos não andam em busca de abstrações – disse com ar de melancolia. Somos a abstração que se pode sentir sem tocar. Somos a metáfora de Deus, porque não nascemos onde nos possam dar nome. Não andamos por caminhos pré-estabelecidos, e desaparecemos sem que nunca tenhamos sido tocados. Somos como o espírito vivo, embora caminhemos como a morte.
Ninguém nos pode guardar. Sabem quem somos só depois que passamos. Somos o passado como vozes do presente. Nos podem ouvir, até mesmo há quem procure traduzir nossas canções, mas frear nosso curso não há quem consiga.
Somos o acalanto dos órfãos. Somos o bálsamo dos que queimam. Somos sopro Deus dando vida. Somos a própria vida.
Enquanto o sol mais alto surgia, devagar como o tempo, a brisa desapareceu. Aborrecido por não ter minha pergunta respondida, me retirei arrazoando com meus pensamentos, trôpego pela embriagante musicalidade da manhã, foi quando percebi que tivera minha primeira lição: A sabedoria é como a brisa mansa. Vem, anda junto e se vai. Dela ficam em poucos, as marcas. Dos que se deixam acarriciar por sua suavidade, como que pelos dedos da brisa nas folhas das árvores.

2 – As árvores
Continuei a caminhar e encontrei uma grande árvore. Já alto o dia, queimavam-me os raios do sol altivo e imponente, como um velho mestre a impor disciplina ao aluno displiscente. Sentei-me à sombra e com jovial ociosidade fitei o cintilar entre as folhas, como se o olhar do velho professor buscasse me encontrar entre as frestas de meu esconderijo.
Era uma castanheira, frondosa, forte, abraçando em círculo com seus braços longos tudo o quando pudese abraçar, como uma mamãe pássaro a envolver seus pintos sob pequeninas asas, mas que se multiplicam de tal modo que nenhum deles perde seu aprisco acolhedor sob a mais intensa chuva ou causticante sol.
Ao lado da castanheira, uma araucária alta, coroada de belas copas ostentando pinhas e balançando uma a uma como troféus por sua imponente forma.
Pousou entre as folhas da castanheira um pequenino pássaro. Quase ao meu lado. Arredio, ligeiro, atarefado em observar tudo ao seu redor como um guradião atenta para o perigo que ronda seu tesouro.
- Conheces a sabedoria? –perguntei ao pardal.
- Como ela é? Tem forma? Sabor? Cor? Pousa em que árvore? Constrói ninhos? Encontra sementes para seus filhotinhos? Banha-se nas fontes e bebe nas folhas? Quão alto voa? Brinca nos ares e voa em bandos? Procura o sul sem repouso em vôos sem descanso? Canta ao amanhecer e repousa com o crepúsculo? Foge dos predadores com astúcia? Etc, etc, etc?
Disse isso e voou dali pousando nos galhos, longe das folhas espinhentas da araucária.
Fiquei estarrecido com tantas perguntas, e enquanto ainda tentava assimilar a primeira delas, acompanhei instintivamente o ir e vir daquele passarinho, até que ele voasse para tão alto e eu não o visse mais.
Assim como chegou, se foi, sem me responder. Apenas fiquei observando o balançar das folhas de ambas as árvores pela brisa que passava, e acompanhar pássaros que iam e vinham, pousando numa e outra árvore. Na castanheira, entre as folhas. Na araucária, sobre os galhos.
Saí dali e contineu a andar. Foi quando percebi que a sabedoria estivera comigo outra vez e eu não havia percebido.
Concluí que como as árvores também podem ser as pessoas: assim as pequenas como as imponentes. Naquelas, cujas folhas pendem para o chão e se deixam soprar pela brisa, outras se podem achegar e construir seus ninhos. Embora imponentes e altivas, suas folhas sempre estão voltadas para baixo, humildes. As demais, cujas folhas também são voltadas para cima, são espinheiros, que não permitem a ninguém se aproximar. Tornam-se intocáveis e inatingíveis.
Olhei para trás, e pareceu-me por um instante ter visto olhos cintilarem entre as folhas que arrazoavam com o vento e os pássaros a respeito da sabedoria.
Criação
À escolha de ser livre
Se eu pudesse aconselhar um jovem designer, diria que nunca aceitasse todos os conselhos sem antes perguntar a si mesmo: "posso saber os atalhos para chegar mais cedo ao fim de meu aprendizado?". Se a resposta for "sim", diria que esqueça tudo o que ouviu e comece a fazer seu próprio caminho, mesmo que pareça mais difícil e seu horizonte inatingível..
Fazer atalhos para chegar a algum lugar não faz sentido quando se trata de criação.
A criação é como uma longa estrada cheia de belas paisagens, curvas, vales, montanhas, desertos, rios, penedos e planícies que temos a percorrer para chegarmos ao sucesso. Se buscarmos atalhos, alcançaremos o resultado, talvez financeiro, mas nunca de satisfação, porque deixamos de ganhar um tempo precioso através da observação, e das belas memórias dos caminhos que percorremos.
Criação é o entrelaçado da percepção e muitas vezes do sacrifício de contornar obstáculos, que nos poderá dar as respostas ao final da trajetória, aliado ao conhecimento das rotas percorridas para que possamos prover ao nosso cliente um mapa mais seguro daquilo que propomos ao final da jornada. E nem sempre os atalhos nos poderão dar esta confiança em nossos resultados.
Persiga sempre os seus instintos, e não se deixe embriagar pelo sucesso dos que o precederam na jornada. Por isso você é um criador, parecido com Deus, que se desejasse uma copiadora teria inventado a xerox muito antes do dilúvio. Mas Deus o fez também criador, e há até quem lhe pague para fazer isso. Por isso, tenha prazer em criar, e não afogue sua intuição nos conselhos de quem tem medo do que é novo, e lhe pede para buscar inspiração apenas "nas tendências do mercado". Você faz a tendência, que o mercado pode aceitar, ou não. Mas daí, é só recomeçar. Faça como Deus, passe um balde d´água e comece tudo de novo. Até acertar. E quando pensar que acertou, de novo esqueça tudo o que fez, e comece tudo outra vez. Um dia chega lá. E se não chegar, que importa isso? Afinal você conheceu as mais belas paisagens que sua imaginação pôde permitir visitar.
"Em cada lugar que ia, via uma casa vazia, e dentro de cada casa vazia, encontrava a si mesmo, indelével, vazio"
Um último gole de chá, já quase levantando, e depois, apressada e delicadamente apanha o guardanapo com as iniciais dela bordadas em branco sobre seda branca, limpa o canto da boca, e devolve o pano à mesa e sai com mais pressa ainda.
Não soubera, ou não quisera suportar a pressão, nem conhecer seus limites no desafio da convivência dos anos. E ela se foi. Sozinha, Sem olhar pra trás. Ele ficou.
A casa vazia, antes movimentada, ora pelas conversas, ora pelas visitas, ou ainda mesmo que pelas brigas cada vez mais constantes nos últimos tempos, agora permanece numa solidão enlouquecedora, num silêncio ensurdecedor. Num vazio devastador.
Ele caminha a passos largos pela campina gelada, segurando firme em uma das mãos a mala rota, e na outra, leva o sobretudo dobrado. Apressadamente. Caminha rumo ao distante horizonte e não vê mais que dois infinitos: às suas costas, o infinito do passado. Uma casa vazia, deixada vazia. À sua frente, o infinito da incerteza, da solidão. E por esta campina andous horas intermináveis. Via pessoas sem rosto, sem nome, sem rumo. 
Em cada lugar que ia, via uma casa vazia, e dentro de cada casa vazia, encontrava a si mesmo. Indelével, vazio. Via sua solidão.
Serenamente continuou a caminhar. Na mão esquerda, uma mala rota. Na direita, um casaco. Aos seus péus, um mundo por descobrir. Um caminho para andar. Uma vida inteira à sua espera.
A vida me pregou muitas peças. Sou praticamente um joão-bobo nas mãos do destino. Embora de ancestrais ricos, influentes, quando chegou minha vez, bom. Deu nisso. Não que me queixe, não. Até acho elegante pensar que não devo nada ao passado, o que, pensem comigo: seria algo impagável. Imagine saber que eu poderia estar num elegante iate, rodeado de  paradisíacas ninfetas a me bajular, gordo, enorme, com a barriga peluda, bunda chata e os braços e pernas finas, vermelho como um camarão e uma sombra de rolex no braço...e chegasse um oficial de justiça com uma intimação (é delírio mesmo. Voce já viu oficial de justiça levar intimação pra biliardário num iate, no meio do oceano?):
- Doutor (eu seria "doutor", mesmo sem título, ou melhor, títulos é o que não iria me faltar: capitalização, iate clube, dívida pública...títulos de tudo quanto era espécie). Devo intimá-lo a devolver todos os seus bens, e de quebra pagar os juros acumulados de R$ 987.837.9387.090.000.937.090,987.234.098,57 ao bisavô de seu tataravô que tá se remexendo no túmulo por causa desta dívida que lhe proporcionou enquanto estava entre nós ("NÓS" quem, cara pálida?).
Serenamente eu olharia o papel timbrado, estalaria os dedos no alto da cabeça, e dois truculentos brutamontes ao MEU serviço, entreolhar-se-íam e um deles entraria em minha luxuosíssima cabine, de lá saindo pouco depois com um estojo preto de veludo, com fivelas douradas. Na minha frente, abriria o estojo e eu, em pessoa, sacaria de lá uma "Mont Blanc" cravejada de brilhantes, assinaria o documento e poucos instantes depois, não haveria mais nenhum oficial de justiça na minha frente. Apenas as roupas estariam ali jogadas no convés do navio. Mas não é o que estão pensando, não. Acontece que o tal oficial, eu logo vi na cara, era um grande amigo meu de infância, e eu o convidaria a trabalhar comigo, nas minhas organizações, pagando apenas 75 vezes mais por mês, que ele ganharia sua vida toda entregando papelote para caloteiros.
Quanto à dívida. Bem, meus advogados já cuidaram disso, e foi recalculada em um total de R$ 73,84, e parcelada em 180 meses com juros de 0, 00000000000019% ao ano.
Minha fortuna pude provar, que não foi resultado de nenhuma dívida com o passado. Foi trabalho duro. Acontece que eu Inventei um jeito de ficar rico honestamente...mas anotei num papelzinho e esqueci onde guardei. Mas quem quer achar um papelzinho bobo, né mesmo? Se ao menos fosse um bilhetinho de loteria.
Natal: Divino ou Pagão?Paulo Cardoso:

1. Introdução
Quando encontramos o mundo a festejar a "data máxima da cristandade", formamos opiniões diversas, dependendo do ângulo pelo qual encaramos a questão. Primeiro, a beleza da festividade em si. Não negamos o espírito nobre com que se reúnem as famílias e entoam hinos cristãos.
Nada mais belo e puro do que ouvirmos "Noite Feliz", de Gruber, ou "Jingle Bells", momento em que nossa imaginação nos transporta à Europa Setentrional, especialmente Finlândia, Bavária e outros países que tão lindamente comemoram a data. Lá há neve em abundância, lindas coníferas iluminadas pelos raios que cintilam sob as gotas de cristal gélido, e a alegria dos festejos das crianças que dançam à volta dos abetos e ciprestes, adornando-os com seus sapatinhos, ou envelopinhos de desejos ingênuos, ouvindo ao longe a gargalhada de "Santa Klaus", ou "Kris Kindle", ou São Nicolau, o "bom velhinho" ("Viejito", em espanhol, parafreseando sutilmente a expressão: "Vamos pedir ao "Bom Velhinho" (Deus) que nos proteja"), ou o "Papai Noel" (Papai Natal em Portugal). Ao mesmo tempo, fazem pedidos e mais pedidos, ansiosos pelo bom humor do velhinho em atender cada um deles.
(Só como cultura: o Papai Noel usa trajes vermelhos desde a década de 40 quando a Coca Cola assim o vestiu, num plágio intencional às cores do produto). Nesta data, tudo é festa, tudo é paz, tudo é alegria, diz a música (o mesmo se diz do carnaval).
Nossos imigrantes de lá trouxeram este costume, embora hoje já nem mais saibam sua origem nem o motivo. A árvore de natal ou "pinheirinho", que também encontramos em profusão no sul do Brasil tem sido motivo de adorno a muitos lugares, evocando um clima característico e nostálgico. Em que, no entanto, este costume universal está afeto ao cristianismo em seu aspecto teológico? Antes de analisarmos mas profundamente este costume pagão, portanto, idólatra, vamos buscar sua origem e associação à data de 25 de dezembro, ambas ligadas ao natal, ou nascimento de Jesus, o Salvador.
2. Origem
Segundo a História Universal, Natal, do latim "natalis" - relativo ao nascimento, ou país em que se nasceu; festa da natividade de Cristo. O natal festeja-se em 25 de dezembro. A data foi fixada pelo Papa Julio I, no século IV d.C (Julio I foi Papa de 337 a 352 d.C., tendo nascido e vivido em Roma). A partir do século sexto foi permitido aos padres celebrar três missas nessa festa: A primeira, chama-se "da meia-noite". A segunda, "da aurora". A terceira, "do dia". Como o celebrante deve estar em jejum, só comunga na terceira missa.
Durante a idade média, a festa de natal era o primeiro e o maior de todos os festejos populares. Nesse período, outro grande festejo popular era acompanhar o martírio público dos cristãos.
Dentre os episódios da festa religiosa, três ainda persistem até hoje: As missas da meia-noite (o do galo); A árvore de natal; e A Ceia.
As músicas natalinas têm sido adaptadas em todas as épocas da nossa era aos cantos populares. Esse uso manteve-se e no século XIX escreveram-se muitos cânticos sobre melodias de origem profana.
A prática do presépio na comemoração do natal foi instituída por São Francisco de Assis, no ano de 1233 (três anos antes da sua morte, escreve São Boaventura (X-7), francisco quis celebrar a festa de nanatl de maneira mais solene possível..entretanto para que isso não pudesse ser interpretado como novidade (ne hoc novitat posset adscribi), tinha obtido do Papa as necessárias autorizações. Fez pois, preparar um presépio, trazer feno e ainda um burro e um boi... -- A noite Greccio (op.cit., pp 541-542 mencionado por R.Brown e umas vinte obras nas quais se pergunta em que consiste a novidade da iniciativa do "Povorello" e qual teria sido sua influência no modo de celebrar o natal daquela data em diante. _Celano, 84-87: Boaventura,X7 (Vida de S. Francisco de Assis, Emglebert, Omer, E.S.T. Porto Alegre, RS, 1978 - Co-edição Vie de Saint François D'Assise).
Devemos, no entanto, considerar sobre São Francisco ainda que ele reputava o Sol como algo divino (o sol da justiça) afirmando que este astro se assemelhama ao Nosso Senhor e chegou a compor um cântico chamado "Cântico do Irmão Sol" (Speculum 119 - ídem anterior). Francisco chegava ao ponto de considerar o sol, a lua e as estrelas, o vento e o fogo como seus irmãos e intercessores (L. Portier-Saint François et la preposition per, en langues neo-latines 46, 1952, ibidem).
Nos detalhamos em São Francisco, apenas para demonstrar a origem de um dos fragmentos que compõem o ritual natalino e também para mostrar a confusão de idéias que polvilha a mente asceta enfraquecida pela guerra, fome, auto-flagelação do eremita. Antes de concluir esse capítulo, lembro também que compôs, o Povorello, uma canção para a "Irmã Morte".
3. Instituição do Natal nas igrejas
Embora de costume europeu, foi somente no Brasil, no final do século XIX que a Igreja Católica Romana e também as demais igrejas protestantes trouxeram a prática de enfeitar uma árvore junto ao altar.
Relação da árvore com o natal
Uma das teorias mais conhecidas é a da "árvore de Maio", que representava uma festividade germânica onde as árvores da cidade eram enfeitadas como numa oferenda à deusa da agricultura, a flora, implorando à natureza o sucesso nas plantações e colheitas. Esta divindade era representada por uma bela jovem ostentando um cesto de flores, tendo ao fundo campo e árvores floridas. Desta forma enfeitavam-se as árvores, porque no Hemisfério norte neste mês entra a primavera (a entrada oficial é em junho, mas os ventos já começam a mudar de direção e as flores começam a surgir. É um renascimento.
Por que em maio, se o natal é comemorado em dezembro?
Para responder a esta questão, fomos à antiguidade - ao século VII a.C. Segundo Aristóteles, Zoroastro, ou Zarathustra, personagem do mundo antigo a quem os escritores clássicos atribuem a fundação da religiao dos magos, conhecido por "mazdeísmo", viveu neste período e teria sido filho de Ahura-Mazda (Ormazd). Desde então provém o mazdeísmo (religião mazdeísta dos antigos povos irânicos. Nasceu entre os medos e se espalhou com eles pela Pérsia. Atualmente é ainda o mazdeísmo a religião dos Guebros e na índia, a dos parses (Bombaím e Surate).
É uma religião dualista por excelência por excelência - admite dois princípios antagônicos: o da vida e da felicidade e o da morte e do infortúnio. O primeiro está personificado em Ahura-Mazda (Ormazd). O culto consiste em venerar Ormazd pela perfeição moral e ofertar pães e carne, que mais tarde foram substituídos pelo leite e pela manteiga. Segundo os sectários, o mazdeísmo foi relevado pelo próprio Ahura-Mazda ao Zoroastro. A lei de Ormazd foi instituída no livro sagrado dos maszdeístas, o "Zenda-Avestá".
O zoroastrismo pratica também os cultos ao sol e ao fogo. Buscando sua origem ainda mais remota, Zoroastro (Zeroashta) quer dizer: "semente da mulher". Também pode ser denominado "Nino", "Nini", "Nemrod", "Gilgamesh", "Merodak" e "Chifroid" (daí a corruptela da "canção de ninar", que quer dizer: fazer dormir a criança). De Nini, temos o nome de Nínive, por ele fundada. Foi a sede do culto de Istah, na Assíria e na Babilônia, dando origem ao culto de Amon, no Egito, durante o domínio babilínico no reinado de Semíramis. Amon é o Deus-solar. Era casado com a lua. Também conhecido como Rá. Desta união entre o sol e a lua, nascia outra divindade - Osíris. Istar, o culto caldaico, era Astarote bíblica (juízes, 2:13)
Sobre Osíris, assim fala o "Livro dos Mortos do Antigo Egito": A união do sol e da lua é representada por Osíris, morto e esquartejado por Seth, que espalhou os membros divinos por todo o universo (isto é por todo o Egito). Sua esposa e irmã ísis o trouxe à vida depois de muito trabalho e esforço. Como Osíris e ísis eram irmãos e esposos, o matrimônio entre irmãos se estendeu ao Egito, pelo menos entre os mais próximos do deuses: a família real e a alta nobreza. Osíris é o grande civilizador do Egito. Inventou instrumentos de agricultura, cultivou a vinha, substituíu os costumes grosseiros e bárbaros por leis suaves e humanas, instituíu festas e o cerimonial dos cultos. Osíris é o sol, princípio que anima e fecunda o mundo e é também o céu e o Nilo. As viagens de Osíris, suas conquistas no oriente, que havia civilizado, eram o símbolo do curso do sol, que espalha por toda parte a sua fecundidade".
Há evidências de que os antigos egípcios também adoravam, além de suas divindades nacionais, a outras, como por exemplo o deus "Tum" (Deus que criou o cêu e fez nascer a vida na terra, alcançava todos os outros deuses e era livre da morte. Identificando seu corpo com o de Tum o morto proclamava a sua natureza incorruptível (Tum poderia ser um corruptela de "Thiuffan", como é "Tupã". Thiuffan é o Deus *JHVH de Israel). *(Utilizamos a designaçnao do nome Sagrado do Deus Eterno pelo Tetragrama, para não ferirmos a pronúncia sagrada).
Observemos a saudação do hino de glória a Rá( o sol): "Salve, ou Rá! Semelhante a Tum, tu te ergues acima do horizonte e semelhante a Hórus-Khuti, culmina o Céu (Hórus é o deus que civilizara, segundo a tradição, o Egito). Associamos desta forma a dois outros personagens que sejam provavelmente os mesmos Zoroastro ou Ninrode, caldaicos e sua esposa-mãe, semíramis.
Mas, por que a data 25 de dezembro?
Dezembro, o último mês do nosso calendário, era o décimo do calendário romano e sua divindade predominante era Vesta, a deusa do fogo entre os romanos (embora governasse o mes de dezembro, era comemorada em 15 de junho). Neste período comemorava-se também, o" dia do menino" (Nino). Nas festividades natalinas, em inglês também chama-se "yule-day", o que comprova sua origem pagã e babilônica, pois Yule, em caldeu significa infante, ou menino.
Este costume era também cultivado pelos anglo-saxões, panteístas pagãos (os panteístas adoram as forças da natureza, segundo mesmos princípios de Piágoras - deus é tudo e tudo é deus) que muito tempo antes dos católicos romanos celebravam, não a deidade do sol, mas o nascimento do deus-lua, pois entre eles sol era feminino e lua era masculino. Na verdade uma espécie de hermafrodita, como Osíris, do Egito. Semelhantemente a lua é masculina na índia. Os adoradores da lua na Arábia também adoravam o "senhor lua" naquela data.
Evidente portanto que o dia 25 de dezembro era lembrado, não por causa do solstício hibernal do sol, mas devido a ser , desde os tempos antigos, a data natalícia de Ninrode. Há também na numerologia egípcio-caldaica uma veneração ao número cinco (este aparece no emblema do fogo nos ritos do Zoroastro); ou a pentalfa - estrela de conco pontas; ou o silêncio dos cinco anos, imposto nos mistêrios pitagóricos; há também em português a expressão "quinta-essência", que significa extrato elevado ao último apuramento, a parte mais pura; na química a parte mais ativa e de maior virtude. Esta expressão tem origem grega, pois sabemos que eles tinham quatro elementos (água, ar, terra e fogo) e o quinto era o corpo livre de todas as impurezas, o "éter", que recebia o nome de "quinta-essência".
De maneira semelhante ao mandamento de Cristo que é perdoar até setenta vezes sete, isto é, infinitamente, pois se para o cristianismo e entre os judeus o número sete representa a perfeição, a compleição, o número cinco tinha essa significação e vinte e cinco não era senão o múltiplo máximo de cinco, como dezembro o décimo mês, múltiplo de cinco e como também já mencionamos, o dia da adoração de Vesta, quinze de junho, outro múltiplo de cinco. Nada mais próprio, portanto, que ao décimo mês (último múltiplo de cinco do ano), ao dia vinte e cinco, o dia da veneração ao sol, que também fosse venerada a sua divindade maior.
4. A árvore de Natal
Continuando ainda na história, falemos de Ninrode (história idêntica, exceto por alguns detalhes, à lenda de Osíris). Após o dilúvio, Noé e seus filhos continuavam a adorar ao Deus Verdadeiro. Mas em pouco tempo, já na terceira geração (Cão, Cuxe e Ninrode) a idolatria se fez aparecer. A primeira organização da religião apóstata em Babilônia, a cidade regida pelo primeiro rei humano, o poderoso caçador Ninrode. Este era nato de Cão e portanto não era do ramo semítico, cujo Deus era JHVH. Mas isto não tinha importância para Ninrode e seus apoiadores. Eles descobriram o segredo à sua maneira e não esperariam pela maneira de Deus. Depois de conseguir (e se impor pela força e astúcia) que o povo o olhasse para proteção e salvação como "poderoso caçador diante do Senhor" ou em desafio ao Senhor, Ninrode chegou ao seu fim.
Como aconteceu realmente, a Bíblia nem a arquologia falam, mas de acordo com a semelhança a muitas lendas e tradiçnoes dos pagãos (já citado) é que ele encontrou uma morte violenta. Há fatos que levam a crer que ele tenha sido mandado executar por sua mulher Semíramis (que evidências também apontam ter sido sua esposa e mãe), raínha astuciosa e que após sua morte, temendo o enfraquecimento do seu poder, propagou entre os seus seguidores que lamentavam sua morte violenta. Se seguirmos a tradição egípcia, como mostra a tradição de sua adoração, provavelmente tenha ele sido esquartejado e posteriormente queimado e suas cinzas espalhadas em diversos lugares.
Cada ano nos relata a história, choravam por ele no dia da sua morte, sob a figura de Thamuz (um nome de Adônis, o deus sol - outra personificação de Ninrode - sendo Biblos da Fenícia o principal lugar de seu culto. A sua festividade anual era junho na Babilônia, em agosto na Palestina, festividade que tomava forma pela lamentação por causa da morte deste deus, e de regozijo por ter voltado a vida. Era efetuada por meio de obscenos ritos (Ezequiel 8:14).
O rio Adônis (Nahr Ibrahim) que tem a sua origem nas montanhas do Líbano, apresenta algumas vezes a cor vermelha, porque o terreno do Líbano é por natureza avermelhado. A fantasia popular converteu esta vermelhidão no sangue de Adônia. Têm-se julgado que as palavras de Isaías em 17:10 se referem aos "jardins de Adônis", cujas plantas, depois de cortadas eram postas em vasos com a sua imagem, feita em madeira, e bem depressa murchavam (em Daniel 11:37 pode referir-se ao mesmo ídolo quando menciona o desejo das mulheres).
Para citar um caso da apostasia religiosa dos judeus nos seus dias, o profeta Ezequiel nos fala deste período dizendo: "eis ali as mulheres assentadas chorando por Thamuz" . O mesmo ocorria em relação a Baco, o deus grego, cujo nome significa "o lamentado" e que é outra figura de Ninrode. A sua morte foi considerada uma calamidade ou injustiça, e Noé e as pessoas responsáveis, segundo o seu povo, foram considerados os representantes iníquos da semente da serpente.
A Mãe de Ninrode chamava-se Semíramis. Em caldeu este nome é "Z-Emir-Amit", que compõe-se de Ze, que quer dizer A; Emir, significa Ramo; e Amir, portadora, portanto, a portadora do ramo. Quando as águas do dilúvio baixaram, a ave que Noé enviou da arca e que retornou trazendo um ramo de oliveira foi uma pomba. Assim, ao nome de Semíramis era aplicado a uma pomba selvagem.
A mãe de Ninrode que se dizia ter sido transformada numa pomba, era assim chamada no sentido místico (Semíramis in Columbam - As Metamorfoses IV, de Ovídio) Ela era considerada a mãe daquele ramo ou renovo humano que é a semente da mulher, os esmagador da cabeça da serpente (ver adoração de Maria nos dias atuais). Isto nada mais foi do que um engôdo diabólico para distraír a atenção da semente verdadeira, a quem a profecia de Deus mais tarde declararia ser o "Ramo" ou "Renôvo verdadeiro" e cujo nome seria chamado "O Senhor da Nossa Justiça" - Isaías 11:1; Jeremias 23:5,6; ZacarEias, 3:8; 6:12,13; Apocalipse, 22:16.
Este foi um grande passo em direção à religião falsa e ao início do paganismo que conhecemos até nossos dias (Comparar com cultos da Nova Era). A evidência de que a primeira mulher a ser deificada depois do dilúvio, Semíramis é muito clara. O nome da deusa da Babilônia era "A Pomba", ou "portadora do ramo", que também é o significado da deusa romana " Juno" , a raínha do céu dos romanos.
Nas esculturas descobertas nas ruínas da antiga Nínive, as asas e a cauda da pomba, num emblema trino, representam o terceiro membro da tríade assíria. Isto concorda com Semíramis, sob o nome de "Astarté", era adorada como uma encarnação do espírito de Deus, pelo qual deveria nascer a semente prometida. Assim também o primeiro homem deificado depois do dilúvio foi o filho de Semíramis, Ninrode, e isto sem dúvida por inspiração de sua mãe (conforme comentário anterior). Ela sustentou que ele não morrera na sua execução, mas fora transferido para o céu como um deus. A constelação de Órion o representa deificado (as três estrelas de Orion formam a tríade), pois este é o nome que foi dado ao caçador gigante poderoso pelo antigo poeta grego Homero, na Odisséia, livro 5, linhas 120 e 121.
A palavra hebraica traduzida órion na Bíblia é Kesil e significa Pessoa estúpida, tolo, imprudente, desafiador e impiedoso" , adjetivos estes que bem se aplicam a Ninrode, poderoso caçador (Jó 9:9; 38:31; Amós 5:8).
Por deificar assim o morto Ninrode, sua mãe Semíramis ensinou a imortalidade da alma humana em desafio à Lei de Deus: "a alma que pecar, esta morrerá". Sob o nome Nino, qeu significa filho homem, ou filho (ver anterior), Ninrode era adorado como o filho de sua esposa (ainda lembrando que no Egito do deus Osíris, correspondente a Ninrode, era filho e marido (ou irmão) da grande deusa do Egito, Madona Isis) Daí se origina a idéia que Ninrode era o marido, bem como o filho de sua esposa. Ele era seu prório pai e seu próprio filho. Seu verdadeiro pai, Cuxe, foi posto em segundo plano e a mãe de Ninrode assim representada como sendo uma mãe virgem (vemos que desde o início o arqui-inimigo providenciou uma forma de um sutil e bem tramado engodo para perverter a história verdadeira, fazendo uma fábula mal contada cair no senso comum da história da Redenção).
Entendeu-se que armar a traição para a semente da mulher de deus e ferir-lhe o calcanhar significava a sua morte, da qual ele se recobraria. De modo que ao morrer Ninrode, Semíramis fez com que ele fosse glorificado e adorado como "a prometida semente da mulher" . Não somente fixou um dia para a lamentação de sua morte, mas também estabeleceu um dia para a celebração de seu aniversário. Esta data foi 25 de dezembro, o mesmo dia adotado pelo Papa Julio I (veja consideração anterior) para seus fins religiosos e políticos, no ensejo de cativar para seus domínios aqueles que não desejavam abandonar suas práticas idólatras, mas que mediante este ardil apenas substituíram o objeto de culto, sem alterar sua substâncias, mas sem nenhum apoio das Escrituras (ver também o nome Yule-Day, em inglês, ibidem).
O Lenho (yule) despojado de todos os seus ramos (esquartejado), lançado na lareira era queimado na noite de 24 de dezembro e representava Ninrode sendo executado, prostrado na morte. A árvore decorada e ornamentada que se via elevada na manhã de 25 de dezembro, representava o Ninrode morto vindo à vida em uma nova encarnação para triunfar sobre os seus inimigos e sobre a humanidade.
Em Roma esta árvore era um abeto, erigido em 25 de dezembro, considerado o Natalis Solis Invictis (o aniversário do sol invencível) No Egito, o simbolo de Ninrode era a Palmeira, cujas folhas eram usadas para simbolizar a vitória.
5. Outro dia reservado para adoração do deus-sol
A Santa Missa-Mistério Pascal, por especialistas, na pág. 326 assim diz: "Foi *Constantino que transformou o dia que os romanos dedicavam ao sol num dia de descanso para mostrar que Cristo é a Luz da nova criação e o Sol da Justiça predito por Malaquias". (*Rei de Roma, que ainda pagão, dirigiu um concílio cristão, cujo idioma oficial era o grego. Só que Constantino não sabia uma única palavra em Grego e só foi batizado, "convertido", ao cristianismo no leito de morte)
6. Conclusão
Ora, não é necessário estendermos o assunto à exaustão, pois ninguém mais do que a própria história para confirmar este decreto que tantas mortes proclamou no curso de seus domínios, o qual também estabeleceu a guarda do domingo em lugar do Sábado da Lei de Deus, fruto do que disse João em Apocalipse: "E cuidará em mudar os tempos e a Lei."
Sabemos, portanto, que sua origem é a mesma e o sentido também se repetem e encontramos razões para questionar a comemoração e a veneração (ou pendurar envelopes numa árovore em frente ao púlpito sagrado terá outro nome?), da data de 25 de dezembro como comemorativa do nascimento do Salvador Jesus Cristo, sendo que nenhuma referência hea no Livro Sagrado, não sendo estabelecido nenhum dia específico para esta comemoração e não será um hediondo dia de louvor a devassas pessoas do passado que tanto sofrimento causaram aos filhos de Deus no passado que desviará a atenção do Povo remanescente nos dias que antecedem a Volta de Jesus.
É de extremo mau gosto e completamente herege a prática de levar para dentro de igrejas cristãs, casas de oração do Deus Verdadeiro, aquilo que é o nefasto símbolo da idolatria, o domingo dos domingos e que certamente está entre os objetos de culto dos adoradores do inimigo de Cristo, que proverão a perseguição aos santos escolhidos de Deus para lhe serem por fiéis testemunhas, guardadores de Seus mandamentos e que possuem a fé de (em) Jesus. Ou seja, o pinheiro de Natal e sua instalação como um objeto de cenário diante do púlpito onde se deve proclamar a verdade, é biblicamente inaceitável. "À Lei e ao Testemunho. Os que não falarem desta maneira, jamais verão a Alva." "Minha casa, diz o Senhor, será chamada Casa de oração para todos os povos (Is 56:7; Mt 21:13; Mc 11:7; Lc 19:46). Exortamos, quer agrade ou não (II Tim, 4:16) sem termos ao nosso lado siquer uma só voz ( II Tim 4:16).
Bibliografia:Biblia Sagrada (Almeida RA);Pentateuco Massorético;Vulgata Latina;Dic. Bíb. Universal (Buckland);Pedro Apolinário (Arquivos);A Magia da Pirâmide - Edmundo Cardillo;O Grande Conflito - E.G.White;O que tem feito a religião pela Humanidade (W.T.B.S);Santa Missa-Misterio Pascal (por Especialistas);Livro dos Mortos (Bardo Tšdol);Livro dos Mortos do Antigo Egito/ Dicionário Rideel;História Universal (HG. Wells);A Vida de São Francisco de Assis (Oto Englebert).Obs. Este trabalho não está encerrado. Estou aberto a debates e mesmo a paradigmas, desde que convincentes e com o devido respaldo bibliográfico. Caso eu possa não conhecer livros que sejam citados em contestações, favor enviar fotocópia anexa.
Leia também no 
http://www.cvvnet.org/cgi-bin/cvvnet?Portuguese+ESTUDOS+Natal
Sermón (Baptista)En Español: La Fiesta Pagana De La Navidad
The Date and Meaning of Christmas - Samuel Bacchiocchi 
 

domingo, agosto 01, 2010

Uma Certa Manhã
Pacard

 Sempre fui favorável a que as manhãs começassem mais tarde. Talvez depois do meio dia. Bem, podem achar que é tarde. Então tá. Pelas dez. Feito. Hora ideal para se abrir a janela, olhar a vida, cumprimentar o dia e..se estiver chuvoso, então voltar a dormir, que nesse caso é o melhor jeito de esticar a vida pelos caminhos do sono.Acontece que nem todos pensam assim. Eu entendo. Perdôo-lhes a falha de caráter. Entendo que é perfeitamente justificável que algumas pessoas gostem de levantar cedo. Eu faço isso. Sim, religiosamente aí pelas seis da manhã. Todos os dias. Cumpro minhas obrigações, dou descarga e volto a dormir.Entendo também que as pessoas possam não gostar das segundas feiras e também das sextas. Pessoalmente acho isso: as segundas não têm defesa mesmo, mas as sextas, ah não. Essas têm que ser justificadas. Afinal, qual é o dia que precede o sábado? Heim? No meu caso, por religião, faço do sábado meu descanso prazeroso. Mas há outras religiões no mundo, cujos prosélitos merecem todo o meu respeito. Até mesmo a turma que ama a sexta feira porque, dizem, isso eu não sei, mas dizem que é o dia internacional da cervejada e batucada na casa do Belô. Dizem também, isso eu não sei, pois minha religião também não me habilita a comer dessas firulas gordurosas como torresminho, salsichinha e louras alheias. Mas isso eu também tenho que fechar um olho pros que não vêem nada de mal em trebeliscar uma friturinha aqui, outra celulite ali. Cadum, cadum.Longe de mim desejar reformar o mundo. Isso nunca. Acho bom demais do jeito que ele é. Acho que está tudo certo…tá, tá, nem tudo. Bom. Então se é pra mexer, acho que então tem que ser faxina geral. Vamos por mãos à obra e começar. Guerra: Vai pro lixo. Roubalheira, seja no governo, nos cultos ou no jogo do bicho: sem perdão. Ensaca e deixa do ladinho, que na quarta feira o lixeiro leva. É dia de lixo orgânico. Vejamos..tem aqui uns trecos..que..ah, já sei: mesquinharia..ih, acho que esse o lixeiro não leva. Certo, enterra.Mas temos que organizar essa faxina: todos devem usar luvas, porque tem uma inhacas que não saem nem com detergente sanitário. E depois de tudo bem limpinho, vamos lavar tudo com água de lavanda.Então certo. Tudo arrumado, vamos ao banho, porque os olores putrendos, aquela murra, fica nas mãos, nos cabelos, no coração. Todo mundo pro banho…ei..epa, epa, epa..quando eu disse “todo mundo”, eu quis dizer: mulher numa banheira, homem noutra. Mas QUE COISA. Mal arrumaram a bagunça e já querem começar tudo de novo?
Vergonha na Cara
Pacard

 Isso é um negócio que uns têm. Outros não. Eu explico: mentira por exemplo. Quem admite que é mentiroso, mas assim , na cara dura, deslavado? Que eu saiba, ninguém. Pois muita gente é. E se for chamado de mentiroso, tipo assim, na lata, no dedo em riste, ah, mas vira bicho. Diz que lhe ferem os brios, e que pataquá, e etecétera. Mas continua sendo mentiroso. E sem caráter. E como, mas como tem gente desse tipo.Vejamos um exemplo: Ah, esta é uma prova para saber se você tem caráter, se é honesto, se tem vergonha na cara e se não é mentiroso. Vamos ao caso:Você está fazendo algo, mas não se caracteriza como algo absolutamente urgente. Nada o impede de divergir do assunto uns minutinhos , porque não fará a menor diferença. E o telefone toca. Pronto: está armada a circunstância propícia para começar sua cota de mau caratismo do dia. Talvez a primeira de uma série delas. Bem, nesse tempo, o telefone já tocou novamente duas vezes. Voce grita: “Mas ninguém atende essa merda de telefone?” (esqueci de mencionar que a merda do telefone está na mesa à sua frente. Alguém é generoso e atende:- Alô! Quem? Fulano? Ah, … (e voce imediatamente inicia um balé de sinais pra saber quem é).- Um momento, sim. Vou ver se está. Aí entra “Kalinka”, aquela outrora tão linda e sentimental melodia russa, agora tão banalizada pelo som de “bits”. Diria até que se trata já do hino nacional da mentira.E você diz, aos gestos apavorados de uma coreografia sofrida que “de jeito nenhum. Que você soube de um parente em coma no Alasca e que foi obrigado a prestar solidariedade a uma família de afegãos que dependiam emocionalmente desse parente, porque eram refugiados no Egito”. Isso. Essa seria uma desculpa aceitável pra não atender nenhuma espécie de telefonema. Afinal, o que as pessoas pensam? Que podem pegar num telefone e sair ligando pras pessoas? Mas com quê direito?- Alô. Desculpe a demora…é que tive que correr atrás do avião na pista molhada, mas já havia decolado..infelizmente..foi visitar..blá..blá…blá.- Não, infelizmente não há a menor previsão de retorno, não pelo menos enquanto o PT estiver no governo.. mas, o senhor gostaria de deixar recado? (e diz isso com a voz mais cândida do mundo) Não? Deixe então seu telefone, que o fulano vai ligar, assim que retornar..está anotadinho aqui. Não se preocupe. Obrigado.As desculpas variam. Ora é para o Alasca. Outra vez é desencalhar o Rainbow Warrior dum poço de petróleo incendiado pelos anti-ecologistas no Cáucaso. Tem vezes que não há desculpa alguma: simplesmente o telefone fica fora do gancho (eu ainda vou escrever sobre isso: porque raios se chama “gancho”, se nem gancho tem mais. Ou por que se chama “discar”, se é tudo com teclas?), e a vítima que se lasque.E então: pronto. Você mentiu. Mentiu descaradamente. Mentiu porque é um covarde. Mentiu porque não tem a menor consideração com as pessoas. E mesmo que na outra linha esteja um chato, voce mentiu porque não tem peito pra dizer: Pô, não me amola. Eu não quero falar com você. Não me ligue.Mas por que se expor, se mentir é mais barato? Mais divertido? Menos agressivo? Afinal, você É civilizado. E nesse caso, mentir é uma marca de sutil elegância.E depois você se queixa que este mundo está pior, porque as pessoas não são verdadeiras. Porque os valores morais foram apagados pela busca do ter em lugar do ser. Pelo mau caratismo dos outros.E há outras mentiras que varrem a sua vida. A mentira do cheque que um caloteiro lhe passou, e por isso não pôde saldar um compromisso no dia, quando simplesmente você não tem coragem de dizer: “Não pude te pagar hoje. Calculei mal, errei no meu planejamento. Gastei o que não podia e comprei o que não devia, e agora me ferrei. Mas sempre tem outro na ponta da linha. Sempre os outros são os culpados pelos nossos infortúnios.Por que não assumir de uma vez, passar uma vassoura na sujeira da nossa vida, assumir que cometemos burradas atrás de burradas e dizer: pronto. Desabafei. Errei. Fiz besteira. Mas não quero mais errar. Não quero mais mentir, não quero mais emporcalhar minha honra nem fazer as pessoas de bobas. Não quero mais embromar as pessoas. E se o fizer, quero ter a dignidade de voltar atrás e dizer: “Me perdoe, porque eu fui sacana”.Mas, claro, que isso quem tem que fazer são os outros. Você é perfeito. E se você é perfeito, então você é quase um deus. E se você se sente um deus, então você é um mentiroso, porque Deus só há Um. E nunca mentiu.>>O direito de estar erradoPaulo CardosoTemos todo. Principalmente porque erramos o tempo todo. Felizmente, porque os erros são nosso grau de colação na tão promulgada “Escola da vida”.Diz o adágio popular que só o homem tropeça duas vezes na mesma pedra. É verdade. Mas também só o homem pode se perguntar: “por que botaram esta pedra no caminho?”Diz-se do homem ser fruto do seu meio. Meia verdade nisso, porque conheço gente decente neste mundo, e dizem que este mundão velho não é mais de se pegar com a mão. Meia mentira isso também, porque já encontrei pessoas que nasceram e foram criadas em famílias exemplares, mas se tornaram vegetais sociais.Diz-se do homem ser um animal social. Não se compara: animal social pra mim é a formiga. Não Bush nem Bin Laden. Diz-se também do homem ser o melhor amigo do cão. Não? Ah, é o contrário? Justificado então os criadores de pitt bulls.Diz-se que aqui se faz, aqui se paga. Ah, tá. Falem isso ao governo que daqui toma e lá for a tanto paga. Mas tamb´m se diz que cada povo tem o governo que merece. Pode ser. Todos devem ser castigados para se purificar e aprender a errar menos. Ah, mas dizem, isso eu não posso afirmar que saiba por mim mesmo, mas dizem, que em priscas eras o salário mínimo era o mínimo justificável para se chamar de salário, isto é, a justa paga por um dia de trabalho. Ah bom, mas isto não mudou. O salário mínimo é exatamente o suficiente para o que o homem necesita dar à sua família em um dia de trabalho. O problema é que o mesmo dinheiro precisa durar um mês.Acho que estamos exercendo com louvor nossos direitos todos: o de errar, e o de pagar pelos erros dos outros. O de falar, e o de pagar políticos para que falem por nós. O de viver, e o de atrapalhar aqueles que vivem à custa do dinheiro que falta dentro do mês em nossos salários
Quando eu era guri
Pacard
Dizem que quando a gente fala isso, é porque está ficando velho. Na verdade há muitos sintomas da velhice: Certidão amarelada, cabelos brancos, esquecimento (quando você conta com animação um fato e seu interlocutor, tedioso lhe diz que já sabia, porque você mesmo lhe havia contado algumas vezes, é porque sua memória…bom, você está velho), saudade dos amigos da infância e principalmente por achar que o mundo já não é mais o mesmo daqueles tempos de antanho. Enfim, quando você tenta recuperar o tempo que deixou de passar com os velhos amigos e descobre que eles não são mais os seus velhos amigos, mas antigas lembranças que não desejejam lembrar que tamb´m estão velhos, e sua presença produz esse mesmo efeito neles.Mas quando eu era um guri, não digo tão tenro que mijasse na cama, mas quando ainda acreditava que poderia e precisava mudar o mundo, embora não soubesse o porquê e nem de que jeito, mas brigava por isso, brigava por aquilo e assim como brigava, ao primeiro rabo-de-saia que passasse, as mudanças do mundo que esperassem, pois eu tinha que cuidar de interesses maiores: a minha própria vida, e quem sabe, se o belo rabo-de-saia permitisse, a vida de minha futura família, cuja máter recém se apresentava para esta oportunidade.Isso, naturalmente, até cruzar pelo próximo rabo-de-saia, e assim a vida seguia seu curso. Afinal, eu ainda era um guri.Mas quando eu era um guri, a vida não tinha tanta pressa. Eu é que tinha pressa de viver a vida. Mas ela olhava para mim com uma doçura que só a vida é capaz de ter e me chamava para conhecer o mundo. E lá ia eu, feliz da vida e com a vida, acreditando que com esse andar, pudesse mudar o mundo. E encontrava outros moços, que como eu, de braços com suas próprias vidas, mudavam às suas maneiras o seu próprio mundo.Mas a candura dos tempos nos traz de volta à lembrança de que não somos mais guris. Não pelo menos nós que travávamos aquelas lutas pela primazia dos olhares dos nossos velhos rabos-de-saia, que hoje tamb´m, em algum lugar do presente, devem se lembrar com terno fechar de olhos, os doces tempos em que esses homens a caminho da velhice eram ainda guris.Quarta-feira, Junho 23, 2004


As Três Irmãs - conto inacabado, que  não tive saco para terminar, nem sei se o farei.
Pacard
Uma era baixinha e tagarela. Morena e bem torneada. Chamava-se Bertúlia. Era a mais despachada da troupe. Filha de um gaúcho autêntico, estancieiro e tradicionalista O nome era estranho. Bertúlia. Bem diferente mesmo, mas fôra engano do escrevente no cartório, pois o nome certo era: “Tertúlia”. Não era um nome lá muito ortodoxo, mas, por amor à tradição, tudo valia.Outra era uma italianinha, Berenice, olhinhos verdes e cabelos compridos loiros. Nariz afilado e lábios finos. Magra, muito elegante e que sabia vestir-se como seu porte exigia. Falava pouco, mas sabia lançar olhares que falavam por mil palavras.E a terceira, era a mais misteriosa de todas. Alta, esguia e sorridente. Descendente de poloneses, chamava-se “Roswitha”. Com tê agá mesmo. Era assim. Dava um nome misterioso. Sua pronuncia lembrava chá de raiz de rosas com licor de aniz numa tarde de outono entre folhas de plátano esvoaçantes. Ou coisa assim. E eram inseparáveis. Unha e carne. Tampa e panela. Lula e Zé Dirceu. Essas coisas inseparáveis. Essas amizades intermináveis.Era tudo junto o quanto faziam: noitadas, jantares, trabalho, faculdade, gatos. Nada era de ninguém e tudo era de todas. Mesmo. Isso desde remotas lembranças, porque um dia juraram amizade eterna. Era um pacto. Uma aliança interminável, fosse o que fosse que se interpusesse entre elas.Isso durou muito, e seria mesmo eterna essa aliança se não fosse o “Vergamota”. O Vergamota, sim senhor. Esse mesmo. Não estou falando de ninguém mais ou de algum homônimo. Era mesmo o Vergamota. Aquele incorrigível anão. Pequenino, mas tanto, que sentadinho no chão, as perninhas ainda continuavam balançando. Desbocado e fedorento. Analfabeto, linguarudo e sem um mínimo de educação. Civilidade nenhuma mesmo. Pois é esse mesmo. O Anão Vergamota. A piada do circo. O insuportável rufião dos becos nauseabundos da Rua Trinta e Três. Famoso “Beco do Salsa”. Era ali o território de domínio do temido Vargamota. Era ali o lugar onde pessoas de bem jamais poderiam imaginar em passar. Era ali que governava a sinistra criaturinha de cinco dentes, um olho vazado e um insuportável cheiro de gambá.Mas Vergamota continuava seu minusculo império da malandragem sem a menor preocupação, por uma razão muito simples e delicada: ele havia salvo “O Hôme” de uma situação vergonhosa, quando a polícia caíra torrencial sobre a vadiagem na busca de um fugitivo perigoso. E a primeira açãoo policial foi sobre a sala rosa, da casa da Gorda. E quem estava ali, refestelado e duro de bêbado, ERA o “Hôme”. E o Vergamota sabia. Então o que fez? Fez o que devia fazer. Armou um sururu pessoalmente com duas protegidas, promovendo um escarcéu que despistasse por uns instantes a ação policial, chamando a atenção sobre seu feito, enquanto os assessores retiravam por uma porta dos fundos o “Home”,sumindo com ele pelas sombras e evitando um escândalo maior. Naturalmente, Vergamota foi preso. Levou uns bifes nas fuças, mas em menos de dois dias estava livre e com salvo-conduto no governo de seu reduzido feudo marginal.Foi num daqueles trabalhos de faculdade, acho que de Sociologia, que as três amigas tiveram que se embrenhar beco adentro para levantar umas estatísticas sobre mães solteiras. Fácil, fácil, no Beco do Salsa, pois ali viviam pelo menos umas cinqüenta. E de menor, acho que por volta de trinta delas. Mas não era tão simples assim entrar nos domínios do Vergamota sem um salvo-conduto do próprio. Foi preciso muito jogo de cintura e uma mãozinha provedora do “Home” para que as três em poucos dias estivessem frente a frente com “sua graça”, o Vergamota, em pessoa.Marcada a “entrevista”, Vergamota que era aquele tipinho, mas não era burro, sabia tratar a cada um de acordo com as circunstâncias. E quando soube que três pitéus universitárias precisariam fazer um passeio pelos seus domínios, tratou de se coportar como um cavalheiro. Fez as unhas, tomou banho, perfumou-se, vestiu-se de linho bramco e chapéu panamá, como convém a todo “Chefão” (no caso dele, “chefãozinho”), mandou um “passa-for a” na marmanjada que o cercava e, como um chefe tribal, esperou as meninas em sua fortaleza (um cortiço caindo de velho).O clima era tenso para as meninas. Berenice e Roswitha tremiam como vara verde ao vento. Bertulia era mais destemida e caminhava a passos medidos à frente das amigs. Eram passos sincronizados e solenes. Não ousavam olhar para os lados para não dar a impressão de serem bisbilhoteiras.CONTINUA…………

Mas eu sei em quem tenho crido
Pacard


“Mas ele negou dizendo: não O conheço. Não sei o que dizes”o Os versos seguintos nos afirmam que por mai duas vezes O negou dizendo que não conhecia ao homem que estava em julgamento.o Mc, 14:10 –“E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais dos sacerdotes para lhø entregar”.o Se nós resumirmos o pensamento histórico e entendermos a correta colocação dos textos neste evangelho, vamos ver que à fria letra dos relatos, há um sentido mais profundo por trás dos textos que nós acabamos de ler.o Quando o historiador conta os fatos de um acontecimento, e este historiador se encontra dentro do cenário destes acontecimentos, muitas vezes ele coloca o que vê, o que ouve e se ocupa em relatar as coisas como são do jeito que estea vendo naquele momento.o Mas há outra forma de se descrever um fato, que é estando for a do cenário dos aconteciimentos.o AUTOR. Marcos, o filho de Maria, de Jerusalém, At 12:12.o Antiga tradição afirma que Marcos foi um companheiro de Pedro, razão por que este livro é chamado de O Evangelho de Pedro por alguns escritores antigos. É geralmente aceito que Pedro tenha proporcionado ou sugerido grande parte do material encontrado no livro.o QUANDO FOI ESCRITO : 50 - 60 A.D.o TEMA PRINCIPAL. Cristo, o incansável servo de Deus e do homem. o A vida de Jesus é descrita como sendo cheia de boas obras. o Seu tempo de oração era interrompido, 1:35-37 . Algumas vezes não tinha tempo nem para comer, 3:20 . Pelo fato de atender a contínuos chamados para o serviço, seus amigos diziam que ele estava fora de si, 3:21 . As pessoas o buscavam quando ele queria descansar, 6:31-34.o PARTICULARIDADES. É o mais curto dos quatro evangelhos. • estilo é vivo e pinturesco. Grande parte do tema está também em Mateus e Lucas, mas não se trata de simples repetição, pois Marcos contém muitos detalhes que não aparecem nos outros evangelhos. o Como o Evangelho de João, Marcos também começa com uma declaração da divindade de Jesus Cristo, sem, contudo, se estender nesta doutrina. o Um cuidadoso estudo do livro revela, sem dúvida, que o objetivo do autor é o de ressaltar as obras maravilhosas de Jesus, em vez de fazer afirmações freqüentes que testifiquem da sua deidade. o Muitos toques pessoais se encontram neste evangelho, como "vivia entre as feras", 1:13; "aos quais deu o nome de Boanerges, 3:17; Jesus "indignou-se", 10:14 ; "e eles se maravilhavam", 10:32 ; "A grande multidão o ouvia com prazer", 12:37 ; etc. o Embora ressalte o poder divino de Cristo, o autor alude com freqüência aos sentimentos humanos de Jesus: sua decepção, 3:5 ; seu cansaço, 4:38 ; seu assombro, 6:6 ; seus gemidos, 7:34 ;8:12 ; seu afeto, 10:21. o Mateus olha para trás e se ocupa principalmente das profecias objetivando os leitores judeus, e dá muito espaço aos discursos de nosso Senhor. o Marcos é mais condensado. Ele diz pouco acerca das profecias e apresenta um resumo dos discursos, mas enfatiza as obras poderosas de Jesus. o Os dezenove milagres registrados em seu curto livro demonstram o poder sobrenatural do Senhor. o Oito deles provam seu poder sobre as enfermidades, 1:31,41 ;2:3-12 ;3:1-5 ;5:25 ;7:32 ;8:23 ;10:46 .o Cinco demonstram seu poder sobre a natureza, 4:39 ;6:41,49 ;8:8-9 ;11:13-14. o Quatro demonstram sua autoridade sobre os demônios, 1:25 ;5:1-13 ;7:25-30 ;9:26. o Dois demonstram sua vitória sobre a morte, 5:42 ;16:9.o **********************************************o Mas não é sobre Marcos que eu quero falar nessa reflexão e sim sobre os dois primeiros personagens que encontramos na leitura: Pedro e Judas. E talvez eu devesse incluir outros discípulos, como João, Tomé, mas nós vamos ver isso no contexto deste tema.o Como eu disse antes, quando o historiador vivencia os fatos, ele descreve apenas o que vê. Quando é um pesquisador, ele já analisa os fatos. Mas sempre se prendendo ao que encontrou nos testemunhos.o Mas existe um outro tipo de história,que é chamada de META-HISTÓRIA - a História atrás da história- mais elaborada, mais minuciosa, que analisa os SENTIMENTOS e as RAZÕES de determinadas atitudes dos personagens envolvidos na trama dos acontecimentos, baseado na análise de comportamento desses personagens.. E é isso que nós vamos fazer aqui hoje: vamos buscar entender o que se passava no coração de Pedro e de Judas, que os levaram a agir como agiram na noite do julgamento de Jesus. E porquê tiveram um desfecho tão diferente um do outro.o É comum e barato à história resumir asim os fatos: Judas traíu Jesus. É simples. Mas foi isso mesmo o que aconteceu? Na prática foi, mas na mente de Judas, não é tão simples assim. Na mente de Judas..bem..vamos ver isso adiante.o Pedro MENTIU quando negou a Jesus?o Judas queria ver Jesus na condição que viu quando O entregou a sinédrio?o Vamos voltar um pouco no tempo. Poucos dias são suficientes: menos de uma semana.o Vemos Uma cidade inteira posta em fila, se aglomerando, se erguendo na ponta dos pés para ver melhor. Vemos uma multidão, e era uma imensa multidão, pois era a comemoração mais importante de Israel de todos os tempos: a maior de todas as festas e a esta festividade ninguém poderia faltar, pois ela simbolizava a UNIDADE daquele povo enquanto nação escolhida de Deus.o Estava portanto Jerusalém apinhada de gente vinda de todos os lugares. E esta gente toda tinha um motivo ainda mais especial para estar ali naquele dia, pois todos tinham ouvido falar de um Homem que num simples toque, que por uma única palavra, que por um olhar mais profundo, era capaz de aliviar a dor, ressucitar os mortos, perdoar pecados, calar tempestades.o Jerusalém não era naquele dia apenas o centro espiritual de Israel, mas era o refúgio a todo coração cansado.o Jerusalém era o ESTRADO dos Pés do Deus vivo. E quase todos criam nisso. E quase todos queriam estar ali quando o Filho do Deus vivo pudesse andar por aquelas ruas. E quase todos queriam estender os seus mantos festivos para que a jumentinha pisasse sobre eles, pois sobre ela estava o Criador de todos os mundos.o E quase todos estendiam palmas, um símbolo de boas vindas dados aos reis. E ali estava um Rei. Não apenas o rei profetizado e alvo da esperança de Israel, mas o rei dos Reis, o Senhor dos Senhores.o Aquele era um dia solene na vida e na história daquele povo.o E aquela era uma oportunidade única, quem sabe se até profetizada para o cumprimento das profecias de Isaías, e Aquele era sem a menor sombra de dúvida, o Emanuel predito, o Deus Conosco, Forte, maravilhoso, o Desejado de Todas as Naçãos, o Príncipe da Paz.o Quem estivesse ao Seu lado, quem O precedesse e quem seguisse os Seus passos, certamente governaria sobre este reino.o E quem estava ao Seu lado? Quem eram os Seus amigos e dedicados seguidores, senão os doze apóstolos escolhidos pessoalmente por Ele. Não impostos, não indicados, não eleitos pelo povo, mas escolhidos e convocados pela autoridade do próprio Filho de Deus? E entre os doze, quem mais confiável, quem mais responsável e capaz do que aquele que jurara insistentemente seguir até à morte e amar com sua própria vida, do que Pedro, cujo nome mudara, crescera diante da missão que lhe era confiada?o E quem mais capaz de governar ao lado do Messias do que o tesoureiro da comitiva apostólica, Judas Iscariotes?o Diante deste pensamento, e era este o pensamento que adornava o coração destes dois personagens durante aquela festividade, o cenário estava preparado para que finalmente o grande milagre de Jesus pudesse ser manifesto.o E este pensamento não era infundado, porque o próprio Jesus mesmo havia dito que mesmo destruído o templo, em Três dias com Seu poder o levantaria. E o que era o templo para os judeus senão a marca viva da presença de Deus entre Seu povo?o E este pensamento adornou a cobiça de Judas e de Pedro. E uma mostra disso é que o próprio Pedro, dias antes manifestara a Jesus a idéia de que poderia ser Rei em Israel no momento que desejasse. Foi quando Jesus disse: “Afasta-te de mim, satanás”.o Andemos agora ao momento qu que Jesus disse a Judas:”O que tens a fazer, faze-o depressa”.o Judas entendeu isso como um sinal de Jesus. Não ouvia mais o que Jesus dizia, mas apenas a sua própria cobiça. E Judas dirigiu-se aos Sacerdotes e combinou a entrega de Jesus.o Mas por que ele fez isso, se sabia que intentavam contra a vida do Mestre?o Porque estava viva em sua mente a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, e tinha plena convicção que ninguém ousaria enfrentar o povo, porque o povo mesmo O aclamara rei.o Judas imaginava que os sacerdotes poderiam fazer com Jesus aquilo que os discípulos não conseguiram: comovê-lO a aceitar o posto e destronar Herodes, que nada mais era do que uma “vaquinha de presépio” dos romanos. E o resto da história voces conhecem bem.o Voltemos a Pedro. Pero talvez não tivesse a mesma ganância de Judas, e sabemos que Pedro nnao era d forma alguma um covarde. Pedro era um home forte, e o fato de ter decepado a orelha do soldado poucas horas antas, demontra que era acostumado ao uso da espada. E estava realmente disposto a morrer pelo seu Mestre.o Então, o que havia mudado no coração de Pedro para negar a Jesus, e nnao apenas uma vez, mas por três vezes seguidas?o E agora vem a surpresa: Pedro não mentiu!!!!o Quando questionado pela empregada, primeiro, e pelos soldados, mais tarde, Pedro olhava lá dentro e via um homem resignado, humilhado e sofrendo constantes humilhações, apanhando, sendo torturado, cuspido no rosto, e cuspir no rosto é até hoje uma afronta impagável..este era o cenário que era mostrado a Pedro.o E Pedro não reconheceu naquele homem de dores à sua frente, descrito por Isaías como uma raiz retorcida, o mesmo e poderoso Jesus que o fizera andar sobre as águas. O mesmo Jesus que levantara sua sogra com um toque de mãos. Que calara uma tempestade e que enfurecido e sozinho entrara no templo e com um azorrague na mão expulsara uma legião de vendilhões inescrupulosos que maculavam a Casa de Deus.o Pedro vê um home calado, ensangüentado, tremendo como uma ovelha diante do seu matador. Pedro talvez tenha conseguido ver rosto de Jesus e Seus olhos quase fechados, inchados de tanto apanhar…e sem esboçar nenhuma reação.o Aquele não era, segundo o coração humano de Pedro, o Jesus que ele conhecera.o Pedro não conhecia aquele Jesus. E de fato, em todos os anos que esteve ao Seu lado, em todas as jornadas, Pedro não havia conhecido a Jesus. o Pedro e Judas simbolizam a todos nós hoje, que estamos na igreja, mas não conhecemos a igreja. Que estudamos a biblia, mas não conhecemos a Palavra de Deus. Que pregamos o conhecimento que temos das maravilhas de Deus, mas não temos um relacionamento com Deus.o Pedro e Judas andavam lado a lado com Jesus, mas nnao conheciam a Jesus.o A finalidade desse estudo não foi a de trazer respostas ou apontar verdades, mas de nos levar à uma profunda reflexão acerca do relacionamento que estamos tendo com Jesus e se estamos verdadeiramento conhecendo a Jesus.o Nós conhecemos a Jesus?Domingo, Junho 27, 2004