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sexta-feira, fevereiro 29, 2008

O DRAGÃO DESPERTOU
Pacard & Mr Pmen

"A China é um imenso dragão adormecido. Quando despertar, o mundo há de tremer. Deixemo-la adormecida"
Atribuído a Napoleão Bonaparte, ao sugerirem que invadisse a China.

Na época de Napoleão, a China já atravessava 3 séculos de contínuo declínio, mas ainda respondia por mais de um terço do PIB mundial, patamar que ainda não alcançou hoje.
E todo chinês sabe que a China só está reconquistando um espaço que é dela por direito.

Até dez anos atrás não havia uma definição tão nítida no mapa da geografia econômica do mundo. Cada país competia com o que e quanto podia, com uma variedade de produtos. Abastecia seu próprio mercado e outros, conforme ditames mercadológicos e prioridades regulatórias. Mas ainda assim se desenhavam rotas tradicionais: calçado era italiano, alemão e brasileiro. Móveis eram italianos ou escandinavos - e no Brasil, brasileiros. Computador era americano, com uma teimosa parcela francesa - e no Brasil, brasileiros. Pelo menos no que tange o mercado interno, os brasileiros sempre esteviveram entre os competidores. O mercado externo também, para vários produtos, onde a maior parte das exportações era destinada ao mercado norteamericano, seguido de pequenos bocados pelo mundo afora. Brinquedos, vestuário, tecidos, em tudo sempre havia o nosso quinhão.Mas isso tudo mudou. Primeiro vieram os produtos japoneses, seguidos pelos "tigres asiáticos". Depois veio a China. E aí ficou. Apenas uma década depois que as reformas econômicas foram "reativadas" pelo já aposentado Deng Xiaoping, cioso de seu legado após o massacre da Praça da Paz Celestial, e a China não tem tido tempo de parar sua expansão frenética mundo afora. Começaram com os brinquedos, roupas, plásticos, tecidos e quinquilharias em geral. Entraram depois eletrônicos e eletrodomésticos, onde já têm marcas mundiais como Lenovo (dona da marca IBM para computadores pessoais) e Haier, maior fabricante mundial de pequenas geladeiras.
Inevitavelmente, depois de já dominar uma boa fatia do mercado internacional, os móveis estão sendo inflitrados no mercado nacional. Como a maioria de seus produtos, sem marca, sem rótulo, pois as marcas tradicionais ou estão fabricando na China, ou estão importando com sensíveis diferenças. Ao contrário do que se pensa, uma notável melhoria na qualidade também, como se observa em todos os outros setores da pauta de exportação chinesa. Como eles conseguem isso? Vamos analisar:
* - ao entrar em cada mercado, a China teve a oportunidade de montar parques industriais do zero. Parques eletrônicos concentravam todos os órgãos de um ecossistema para suportá-lo, desde fabricantes de componentes até integradores, passando por escolas afins nos arredores vomitando mão de obra qualificada aos milhares. Por serem projetos de infraestrutura recentes, gozam de maquinário, estradas, portos, aeroportos e sistemas logísticos de última geração.
* - mão de obra que, para todos os efeitos práticos, é infinita - se bem que de adequação discutível em vários casos. Hoje há mais de 800 milhões de chineses ainda no campo - mais de quatro Brasis - dos quais o governo deseja transplantar aproximadamente três quartos para a cidade, em trabalhos mais produtivos e bem pagos, durante as próximas duas décadas. Estes se juntariam aos já 200 milhões de migrantes que por si já se mostraram suficientes para popular o parque industrial que hoje é, literalmente, a "fábrica do mundo".
* pib impressiona tanto pelo tamanho quanto velocidade. crescendo acima de 11%, o que representa a maior cifra desde 94, dentre uma coleção já impressionante de números desde as reformas de deng xiaoping no início da década de 80. anos muito ruins, quando muita coisa negativa acontece ao mesmo tempo (92 e 98) ainda não conseguem abaixar a média quinquenal de crescimento para menos de 6%.
* ainda não há preocupações de superaquecimento, mas isto deve virar preocupação em breve - inflação já está acelerando para algo como 4-5% ao ano
* atividade febril de construção, com preços imobiliários aumentando até 10% ao ano e atividade de construção aumentando 30% por ano. investimentos em geral respondem ainda por uma parcela descomunal do crescimento - até um terço do crescimento é investimento em ativos. governo deve tomar ações para resfriar este mercado até metade deste ano.
* superávit comercial aproximando os $300bi anuais, com aumento considerável da pauta, cada vez mais sofisticada
* produção industrial cresce a passo quase constante de 15% anuais desde 2002
* expansão da infra-estrutura rodoviária é de quase 50 mil Km por ano (só de rodovias)
* 11o plano quinquenal, no momento sendo aprovado pelo congresso do povo em pequim, prevê vultosos investimentos em mais desenvolvimento e, de forma inovadora, em temas sociais como desigualdade social e proteção ambiental.
Diante disto, antes de temer que o dragão desperte, pois já despertou, precisamos nos concentrar, não apenas no tamanho da cauda e o estrago que possa fazer no seu andar, mas principalmente em que lições podemos tirar de uma economia que cavalga furiosamente e bebe em largos sorvos mercados antes fiéis.
Posso crer que a principal lição é a obstinação, a fome pelo crescimento e principalmente, sentimentos à parte, o governo de lá não atrapalha o crescimento de seu país.
Seus baixos preços não são relacionados apenas à lei trabalhista pré-vitoriana, mas principalmente porque o governo tem tanto um projeto de país claro quanto o poder para colocá-lo em prática. Realiza grandes compras de matéria prima, quantidades absurdas, e as repassa à pequenas cooperaivas sem poder de compra. Não sobrecarrega de impostos, e gera um efeito multiplicador porque preço baixo gera quantidade. Quantidade gera trabalho e trabalho gera riqueza.
O sistema centralizador gera distorções, claro. É corrupto, desperdiçador, meta-estável, dsequilibrado. Mas tem sido impressionantemente eficaz em engendrar a transformação espetacular de um país paupérrimo, que depois de Napoleão ainda estava por conhecer o início de um século e meio de turbulências pavorosas que a reduziriam a menos de 3% do PIB mundial no início da década de 70, no titã que hoje embasbaca analistas tornando-se repentinamente o segundo celeiro de bilionários do mundo, destruindo satélites com mísseis a partir de bases móveis, lançando a primeira linha comercial de trens de levitação magnética, fabricando quatro quintos das gravatas no mundo, contruindo uma cidade livre de emissão de poluentes...
É parte da psique nacional que a China está só começando, retomando passo a passo o espaço que é seu por direito, como em seu apogeu nas dinastias Tang e Ming, quando mais da metade das riquezas mundiais estavam em seus domínios.

Mas ao mercado moveleiro cabe saber alguns fatos óbvios, e estar praparado. Em estratégia tanto valeconhecer as ações do concorrente, como planejar suas próprias.
* A China já é o maior produtor de painéis de madeira do mundo.
*A China não possui madeira. Importa tudo. Pinus da Sibéria, Madeiras tropicais da Indonésia, África e Brasil.
* A China é o maior produtor de bambu do mundo (mas isso é tema para outro artigo). Já produz painéis colados de taliscas de bambu e com eles fabrica pisos e mobiliário.
* O MDF chinês, ao contrário do que a lenda reza, não é de má qualidade. Apenas seguem o padrão europeu de medidas (1,22x2,44).
* Chinês não copia tudo. Copia tudo e mais um pouco. E faz mais barato. Não se compra um produto chinês pedindo catálogo. Se manda o que deseja e eles mandam igual e mais barato. Isto desde ternos no bairro de Dongjiadu até carros populares em Anhui.
* O Estados Unidos formam 20 mil designers por ano. A China forma 200 mil (além de 600 mil engenheiros, quase uma ordem de grandeza a mais que os EUA)
* A China está investindo em muitos países em desenvolvimento quase a fundo perdido, com a recíprioca que estes países recebam chineses para mão de obra local. Isso acontece em Angola, Brasil e diversos países da África.
* A produção moveleira na China, embora fabriquem todo tipo de máquinas, não é em essência, automatizada nem possui grande tecnologia. É humana mesmo, semelhante ao plantio de arroz, para garantir os emprêgos. Mesmo assim, ganham produtividade.
*A China não possui design adequado ao ocidente. Aí é a brecha que temos que segurar aberta, pois o diferencial brasileiro não está mais na prestação de serviços, mas na criatividade e no design. Nisso podemos competir. Mas, somos suspeitos em falar. Só dois Paulos não fazem verão.

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