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domingo, agosto 22, 2010

O CRIME DO MALA
capítulo I
Pacard

Não errei o gênero. Apenas troquei o indivíduo por seu qualificativo. Mala sem alça. Nesse caso, assume o gênero masculino, por uma referencia de sua personalidade mala...mal amado..mal arrumado e mal grato também.
Era o Mocotó. Também não se tratava de um mocotó, mas do Mocotó. Com a grande. Alcunha ou pelido de Genevaldo Pitombo y Pañuelo, mas poucos conheciam seu nome civil. Apenas Mocotó, seu nome de guerra, era o que ecoava pelos corredores infestados de fumaça de cigarro vagabundo, da repartição onde Mocotó trabalhava.
Pitombo, nome de familia paternta, e Pañuelo, da mãe. Doña Dolores Margarita del Piño y Pañuelo. Parece trocado, mas era espanhol. Catalão, pra dizer a verdade. Lá o nome do pai vem antes: Pitombo, nome português, mas nascido nos Pirineus, ao pé de Pica D’Estats, a montanha mais alta de toda a Catalunia (ou Catalunha), num vilarejo escondido, onde quase todos eram agricultores, plantadores de batata e vinhas. Don Ramirez del Coño Aranjuez y Arancíbia Pitombo era latoeiro e trabalhava com os irmãos em uma oficina onde fabricava jarros, bacias e outros utensilios para a vizinhança. Porém, com a Guerra Civil deflagrada, fugiu com a mulher e filho para a França, e de lá tomou um navio que vinha da Itália carregado de imigrantes para a América do Sul. E fui nesse navio, entre um enjôo e outro, por mais de cinquenta dias mofando no mar, perdido entre as lembranças da Espanha que deixara, e a esperança da América, que os receberia, quando e onde foi concebido o pequeno Genevaldo. “Genibal”, para sua mamacita.
Pouco antes de chegar ao porto, em Santos, um temporal vindo de alto mar, fez com que o navio tivesse problemas mecânicos e foram necessários mais tres dias, até que houvesse calmaria. Esse temporal repentino, somado ao cansaço da viagem, causou certo desconforto entre os passageiros, agravando o início de gravidez de Genevaldo, que se prolongou durante os longos meses seguintes, pelo difícil início da familia na nova terra.
Don Ramirez trouxera algumas ferramentas essenciais para sua função, o que lhe permitiu iniciar logo seu trabalho. Primeiro, em Santos mesmo. Mas logo mudaram para São Paulo, onde a cidade crescia e havia mais oportunidades. Mas também não demoraram muito tempo em receber um convite de outro espanhol, vindo de Valencia, onde fora pescador em Gandia, uma pequena cidade balneária no Mediterrâneo, e havia falado de um refúgio tranquilo no sul do Brasil, na Ilha de Florianópolis, um antigo reduto de descendentes de açorianos, onde a pesca era o principal meio de subsistencia, e abundante, o que oferecia oportunidades melhores para o valenciano, e para os Pitombo, também poderia ser um lugar de paz, o que buscavam, e São Paulo, naquele periodo lembrava um pouco o tumulto das cidades maltratadas pelos bombardeiros alemães sob a ditadura e Franco. Bem verdade é que aqui havia outro baixinho, também ditador, mas deste lado havia certa cordialidade, e alguma liberdade de trabalho, e o melhor de tudo: era um país brotando, cheio de oportunidades para quem tivesse um ofício. E latoeiro era um bom ofício, pois mesmo com dificuldade e raridade dos metais de fabricação de seus utensilios, sempre haviam consertos e reparos, o que garantia que seu martelinho não parasse o dia todo e muitas vezes até tarde da noite. E para um espanhol latoeiro, martelo batendo era alimento entrando em casa, pois toda a aparencia de austeridade que seu longo bigode tentava mostrar, o peito apertava e o coração era acelerado toda vez que Doña Dolores lhe tomava a mão e colocava sobre a barriga para sentir os chutes do pequeno “nadó”, ou bebê, na língua catalã.

....continua

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